Amorim lembra, ainda, que quando o secretário de Defesa dos EUA (Lloyd Austin) veio ao Brasil, no ano passado, disse na frente do ministro da Defesa, à época, que o poder militar tem que estar subordinado ao poder civil, defende a democracia e reafirma a confiança do governo Joe Biden no sistema eleitoral e nas urnas eletrônicas.
Por Redação, com Sputnik Brasil - do Rio de Janeiro
Ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa, nos governos petistas, o diplomata Celso Amorim não poupa o atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), tanto nos assuntos internacionais quanto internos. O saldo negativo é citado pelo principal conselheiro em política externa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de cuja gestão foi chanceler entre os anos de 2003 e 2010.
Em entrevista exclusiva à agência russa de notícias Sputnik Brasil, Amorim aponta os direcionamentos que devem coroar a diplomacia do Brasil no caso de Lula ser conduzido, novamente, à chefia do Executivo. Amorim também descarta qualquer tipo de aventura golpista por parte do atual governo.
— (Bolsonaro) pode causar muito tumulto ainda, porque não sabemos como vai se comportar. Até porque uma das coisas que caracterizam o Bolsonaro é a imprevisibilidade total do comportamento dele. Se você me dissesse que ele iria visitar a Rússia no meio de uma crise que, seis dias depois, levou a uma guerra. Claro que talvez ele não pudesse adivinhar, mas a informação corria nos serviços (diplomáticos). Mas ele não só foi como prestou solidariedade. Então ele é imprevisível. Mas eu acho que não há condições — afirmou.
Poder militar
Segundo Amorim, falta apoio externo para um golpe de Estado, no Brasil.
— Sempre que houve um golpe militar ou com apoio militar na América do Sul, em geral, e no Brasil, em particular, ele se deu com apoio da elite econômica, da grande mídia e de potências externas ocidentais, sobretudo pelos próprios Estados Unidos. Eu acho que nenhum dos três fatores, hoje, joga a favor (de um golpe), então torna isso muito difícil. São três grupos muito poderosos — avalia o diplomata.
Amorim lembra, ainda, que quando o secretário de Defesa dos EUA (Lloyd Austin) veio ao Brasil, no ano passado, ele disse na frente do ministro da Defesa, à época, que o poder militar tem que estar subordinado ao poder civil, e defende a democracia.
— Antes disso, o próprio governo norte-americano tinha dito que o sistema eleitoral brasileiro é um exemplo para o hemisfério e para o mundo. Não acho que vai haver golpe. Agora, pode haver um tumulto, pode haver uma tentativa — acrescentou.
Alto comando
O ex-ministro da Defesa cita as “declarações totalmente descabeladas de militares da reserva, às vezes, do Clube Militar”.
— Mas isso tinha e sempre teve. Tinha uma pessoa que trabalhava comigo, um general de quatro estrelas, e ele sempre se referia à "reserva raivosa". Porque aí todos os ressentimentos, aquilo ali é um túmulo de fervura constante. Eu acho que não é isso o que predomina, o que vai predominar é o pensamento do alto comando. E o alto comando tem juízo — concluiu.