Dom Sebastião, monarca de Portugal, desapareceu em 1578 na Batalha de Alcácer-Quibir e, como tudo começou a dar errado no reino, os lusitanos acalentaram a esperança infundada de que ele reapareceria para restabelecer a governança. Ficaram a ver caravelas.
Da mesma forma, Lula, reizinho do Brasil, desapareceu na batalha sucessória de 2010 e, como tudo começou a dar errado nesta Pindorama, os mesmerizados pelo populismo acalentaram a esperança infundada de que ele reapareceria para restabelecer a governança.
Por Celso Lungaretti
Vai ficando cada vez mais difícil para Lula uma reeleição em 2026.
Como este continua sendo o país do eterno retorno, Lula até conseguiu recuperar o cargo. Mas nem de longe está sendo capaz de restabelecer a governança, muito pelo contrário.
Errou lá atrás ao escolher como sucessora uma gerentona trapalhona, que, para piorar, era devota de outro D. Sebastião, um bravo guerreiro no enfrentamento dos inimigos (tanto que até abortou uma conspiração contra a Coroa em 1961), mas cuja visão de mundo era pra lá de ultrapassada.
A gerentona, exumando a proposta de alavancar o desenvolvimento com investimentos estatais que esteve em alta na década de 1950, acabou colocando o Brasil do século 21 no rumo de uma depressão econômica e sendo por ela tragada. Deu lugar a um regente inexpressivo e, depois, a uma versão piorada de D. Maria I, a rainha louca de Portugal.
Aquela pelo menos teve uma fase boa antes de endoidar de vez, ao contrário do congênere brasileiro, que aos 33 anos já delirava, acalentando planos malucos como o de mandar pelos ares o reservatório de água da cidade.
Tantas fez tal ser boçal e ignaro, responsável indiscutível pelo maior extermínio de brasileiros em todos os tempos, que o Lula conseguiu um terceiro mandato presidencial surfando na rejeição a tal psicopata, mas sem conseguir recuperar as ferramentas essenciais ao exercício do poder, que ficaram nas mãos de dois altos cortesãos, o Lira Desafinada e o Urtigo Pacheco.
Ele usa a faixa presidencial (a coroa está fora de moda), mas não passa de uma rainha da Inglaterra. E perdeu o respeito até dos cortesãos mais antigos, que já o veem como carta fora do baralho em 2026 e adiante.
Será, aliás, lembrado pelo insólito detalhe de haver sido feito duplamente de rainha da Inglaterra, pois a isto foi reduzido também pela esposa, que se tornou uma espécie de tutora informal do pobre coitado.
Como acabará esta fábula cruel? Tudo leva a crer que com uma derrota acachapante do Lula e seu governo em outubro próximo e a perda do que lhe resta de poder no ano seguinte. Pois a majestade ele já perdeu há muito tempo…
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AGORA FALANDO SÉRIO – Tão medíocres são os personagens da política institucional brasileira no século 21 que escrever sobre eles em tom de galhofa é uma escapatória para não cairmos na mais profunda depressão. Eu a adoto sem contra-indicações.
Farei contudo, desta vez, um breve resumo em benefício daqueles que Nelson Rodrigues qualificava de idiotas da objetividade.
A obsessão narcisista de Lula por um terceiro mandato está sendo trágica para o Brasil. Pois a pulverização dos fundamentos da vida civilizada sob Bolsonaro exigia uma resposta muito mais contundente: seu impeachment. Ervas daninhas têm de ser totalmente extirpadas
Lula, com a cumplicidade bovina da esquerda institucional, tudo fez para que o palhaço do apocalipse sobrevivesse ao diluvio de crimes de responsabilidade com que inundou o Brasil.
Sabia que de uma nova diretas-já emergiria alguma liderança combativa como ele nunca verdadeiramente havia sido e jamais será, já que toda a sua trajetória foi a de um reformista empenhado em maquilar a monstruosidade intrínseca do capitalismo, ao invés de pôr fim à exploração do homem pelo homem,
Então, fez corpo mole com relação ao impeachment do sacripanta de forma tão descarada quanto o dito cujo sabotou a vacinação contra a covid. E o resultado foi uma vitória na bacia das almas e que acabou sendo tão somente pessoal: elegeu-se mas deixou Câmara e Senado entregues ao inimigo.
Agora se encontra emparedado pelos conservadores e extremistas de direita, assistindo impotente à aprovação dos maiores absurdos da pauta de costumes que é o xodó dos ansiosos por uma nova Idade das Trevas.
E, se Lula era a pior aposta possível para o que resta de uma verdadeira esquerda nesta fase terminal do capitalismo (quando, ainda por cima, as consequências do aquecimento global desabam uma após outra sobre nós), o artigo desta quinta-feira (6) do William Waack (Velha guarda petista está pessimista quanto às chances de Lula nas eleições de 2026) coloca o dedo na ferida: seu governo sem direção nem noção consegue agora maximizar o prejuízo.
Não há como desmentir Waack: Lula 3 é uma permanente confusão política, que aborta as chances de a economia voltar minimamente a crescer e ainda detona o profissionalismo dos mandatos anteriores, pois a elite de quadros profissionais e experimentados na política agora tem de conviver com os arroubos amadoristas da Janja, que parece imaginar-se uma Evita Perón mas não passa de uma Isabelita…
Waack é caridoso: Frente a um adversário inelegível tropeçando em si mesmo, neste momento o caminho para 2026 deveria surgir bem delineado. Ao contrário, o cenário nunca esteve tão aberto.
Cenário aberto? Nem a pau, Juvenal!
Eu diria que, hoje, a única luz no fim do túnel que brilha para Lula não passa de um trem vindo em
sentido contrário.
CelsoLungaretti, jornalista, escritor, militante contra a Ditadura militar de 1964 a 1985.
Direto da Redação é um fórum de debates publicado no jornal Correio do Brasil pelo jornalista Rui Martins.