Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

A ONU já condenou o sionismo

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Domingo, 12 de Novembro de 2023 às 18:58, por: Rui Martins

Nestes dias de guerra, quando Israel bombardeia Gaza e causa milhares de mortes de civis, em represália aos atentados cometidos, faz um mês, pela organização terrorista Hamas, provocando manifestações internacionais, certas palavras destacam-se na imprensa mundial como sionismo, antissemitismo e islamofobia. Vamos tratar do sionismo. Pouca gente se lembra de que a ONU, mesmo tendo sido criadora do Estado de Israel (que já deveria conviver com um Estado palestino vizinho), condenou o sionismo, a ideologia e o movimento que uniu os judeus pela criação de Israel.


Por Rui Martins

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Durante 16 anos, a ONU manteve a condenação do sionismo


Ora, isso ocorreu no dia 10 de novembro de 1975, na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque. O Brasil estava sob a ditadura militar, o presidente era Ernesto Geisel, luterano e filho de imigrantes alemães, e votou pela condenação do sionismo, indiretamente contra Israel, junto com Cuba, China, URSS e outros 69 países, se desmarcando do voto dos Estados Unidos.

Os militares olhavam os judeus com desconfiança, pois muitos deles condenavam ou lutavam contra a ditadura. Durante outra ditadura, a de Vargas, o líder comunista Luís Carlos Prestes esteve preso durante nove anos e sua esposa, Olga Prestes, alemã e judia, também foi presa, grávida, em 1936, deportada para a Alemanha nazista, ficou nos campos de trabalho forçado para judeus e morreu aos 34 anos numa câmara de gás.

A jornalista Marina Lemle, do blog HCS-Manguinhos, publicou, em maio de 2014, uma importante reportagem sobre um seminário realizado no Instituto de História da UFRJ, “Judeus, militância e resistência à ditadura militar”. O título da reportagem é bastante revelador: “Judeus que resistiram à ditadura eram secularizados”.

Participaram alguns nomes importantes da esquerda judaica, como Bernardo Sorj, Bila Sorj, Jeffrey Lesser, Marcos Chor Maio, Roney Cytrynowicz, Roberto Grun e Alberto Dines.

“Dines contou que a comunidade judaica era claramente dividida entre os “roite idn” (judeu vermelho, em ídish) e os não “roite”. Segundo ele, a vida judaica de esquerda no Brasil era muito intensa e corria separada da vertente sionista”.

Dines contou também terem desaparecido durante a ditadura militar os judeus Ana Rosa Kucinski Silva, Mauricio e André Grabois (pai e filho), Chael Schreier, Gelson Reicher, Pauline Philipe Reischtuhl, Vladimir Herzog e Yara Iavelberg.

Provavelmente, estes judeus seculares também teriam concordado com a definição de sionismo, dada pela ONU, Resolução 3379, que considerou o sionismo como forma de racismo e discriminação racial.

A aprovação da Resolução 3379 teria sido também uma condenação da decisão israelense de permanecer nos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias, como resultado da ascensão política do terceiro-mundismo e da legitimidade da causa palestina.

Nessa época, há 48 anos, os evangélicos – que se identificam com a história bíblica do povo judeu, são de extrema direita e apoiam Netanyahu e Israel contra os palestinos – não possuíam a mesma força religiosa de hoje para influir no voto do Brasil.

Em 1991, com o fim da guerra fria, a maioria dos países não árabes mudou o voto e anulou a Resolução 3379, votando a Resolução 4686, cujo texto é o mais suscinto da história da ONU. Só diz o seguinte: a Assembleia Geral decide revogar a determinação contida na resolução 3379 de 10 de novembro de 1975.

***

Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

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