Desde que um sonho - o de José, do Egito, com as vacas magras e as vacas gordas - deu certo, os economistas começaram a participar do poder, sem outra legitimidade para o exercer que a do simples palpite. O mito de sua eficiência foi destruído por um dos que mais se destacaram no estudo dos fatos e das doutrinas econômicas no século passado, J.K. Galbraith: se eles fossem infalíveis em suas previsões, não haveria economista pobre. Essa precariedade da inteligência lógica talvez explique sua associação, clara ou dissimulada, com os vitoriosos no mundo dos negócios, e seu fascínio pelos governantes totalitários, que lhes entregam o poder real, enquanto se revezam entre as pompas e o exercício da repressão.
Ao contrário da intuição criadora de José do Egito, a receita dos economistas modernos para colocar ordem nas finanças públicas é uma só: a do arrocho. Resume-se em cobrar o máximo de impostos e gastar o mínimo com os serviços do Estado, sobretudo aqueles considerados "sociais"'. É a famosa história do cavalo do inglês, que trabalhava cada vez mais, e comia cada dia menos, até morrer de fome.
O ano termina com um grande êxito para o Sr. Antonio Palocci e os argutos rapazes da equipe econômica. O cavalo ainda não morreu, o risco Brasil foi reduzido, o dólar subiu e os juros caíram um pouco. Mas o Produto Interno Bruto, se não for negativo, será de apenas 0,3% no ano que se foi. Como tudo na vida é relativo, se compararmos o comportamento da economia brasileira no ano passado, com o de outros países, deveremos sentar no meio-fio e chorar. E se não houver um crescimento excepcional do produto interno, no ano que se inicia, que compense as perdas passadas e contemple também o crescimento demográfico, será difícil impedir a implosão da sociedade nacional.
Exemplo de grande economista do século 20 foi o professor Antonio de Oliveira Salazar, a quem os militares entregaram o governo de Portugal por quase quarenta anos. Salazar é até hoje lembrado pelas oligarquias lusitanas como um grande e generoso déspota. Sob sua autocracia, havia ordem nas ruas, o escudo se valorizou, o país acumulou grandes reservas cambiais e se inventou, graças a uma farsa anticomunista, o Santuário de Fátima. Tudo marchava na melhor tranqüilidade, porque a lei era a lei, e a lei era Salazar.
Os jornais eram censurados, os pobres tiravam o chapéu para os ricos, e Portugal exportava seus excluídos para o mundo inteiro, da mesma maneira que exportava azeite, cortiça e vinhos. As prisões estavam cheias de republicanos históricos, trabalhadores e intelectuais de esquerda, e no Estoril e em Cascais a apodrecida aristocracia monárquica jogava e se divertia. Visitando Portugal, nos anos finais de seu governo, fui acompanhado ao norte do país por um admirador fervoroso do regime. Na estrada, assistimos à saída de turno de uma fábrica de tecidos, e os trabalhadores, homens e mulheres, estavam muito mal vestidos para a estação, e todos descalços. Como fosse já outono velho, e fizesse muito frio, estranhei que não estivessem calçados, e meu interlocutor respondeu, indignado, que com "aquela malta" não tinha jeito. O governo havia feito uma lei que proibia aos portugueses andar descalços, mas aqueles renitentes insistiam em não a obedecer.
Vamos admitir que no Brasil a situação estava tão grave foi preciso manter, na economia, os mesmos métodos recessivos de Fernando Henrique por algum tempo. Mas os nossos salazares já estão mandando há quase tanto tempo quanto mandou o filho do chacareiro de Santa Comba Dão: em abril fará 40 anos que o Sr. Roberto Campos inaugurou o seu poder sobre a desvalida República estuprada pelo golpe.
E para dar razão a Galbraith, convém lembrar que o excelso intelectual patrício, quando tratou de negócios bancários - os mais rendosos, como sabemos - foi um desastre, como se recordam os que lhe confiaram os seus cabedais.
Passados os primeiros doze meses, que foram particularmente duros para
Rio de Janeiro, 04 de Janeiro de 2025