As relações especiais da Itália com os Estados Unidos, a Rússia e Israel, alimentadas pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi em seus cinco anos de mandato, estarão em perigo nas eleições da próxima semana, que podem determinar uma mudança na política externa do país europeu.
- Com o presidente Bush (George W. Bush, presidente dos EUA), tudo é simples - afirmou um sorridente Berlusconi em 2001, elogiando o dirigente que teve apoio da Itália nos conflitos no Afeganistão e no Iraque.
Se o bloco de centro-esquerda comandado por Romano Prodi vencer as eleições gerais de 9 e 10 de abril conforme prevêem as pesquisas, as relações entre Roma e Washington devem ficar mais complicadas.
Apesar de ninguém esperar uma mudança de 180 graus na política externa italiana em um governo Prodi, analistas dizem que ele deve cancelar as prioridades de Berlusconi, colocando a Europa e não os EUA em primeiro lugar.
- Um governo Prodi retomaria uma política mais tradicional, pró-Europa e pró-Nações Unidas, ao invés do isolamento de uma relação especial com Washington - afirmou John Harper, professor de Estudos Europeus no campus de Bolonha da Universidade Johns Hopkins.
Prodi, que se opôs fortemente à guerra liderada pelos EUA no Iraque e à decisão de Berlusconi de enviar soldados para lá, diz que continuaria tendo boas relações com o governo norte-americano.
- Acho que, entre amigos, o importante é dizer o que se acha, tanto quando estamos de acordo como quando não estamos de acordo - disse o político recentemente.
Mas poucos duvidam de que a eleição dele resultaria em relações mais frias com os EUA, vistos com desconfiança por muitos dos aliados políticos de Prodi.
O candidato a premiê criticou um alerta de segurança feito pelo governo norte-americano no mês passado chamando atenção para a possibilidade de episódios de violência acontecerem na Itália antes da eleição. Muitos dos aliados de Prodi acusaram os EUA de tentar ajudar Berlusconi.
Europa primeiro
Berlusconi também forjou laços mais intensos com a Rússia e Israel, mudando a postura tradicional da Itália, pró-UE. Se o atual premiê não for reeleito, analistas prevêem que os líderes do bloco, com a exceção talvez do primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, vão derrubar poucas lágrimas.
- Berlusconi fez um grande investimento nas relações pessoais com pesos-pesados como Bush, Putin (o presidente russo, Vladimir Putin) e Blair porque isso dava a ele um grande número de oportunidades para posar para fotos. A Europa não é, certamente, a paixão de Berlusconi e há forças na coalizão dele, tais como a Liga do Norte, que não são especialmente pró-Europa - disse Sergio Romano, um ex-embaixador da Itália na Rússia.
Prodi, ex-presidente da Comissão Européia (Poder Executivo da UE) e arquiteto da adesão da Itália ao euro, diz que reafirmaria a influência do país dentro do bloco retomando as relações com a França, a Alemanha e a Espanha. Prodi também deseja que a Europa desempenhe um papel de maior destaque no processo de paz do Oriente Médio. Mas ele pode ter problemas ao tentar fazer com que sua coalizão, que reúne desde católicos de centro a comunistas mais radicais, chegue a um acordo sobre um plano de ação. Enquanto alguns dos aliados de Berlusconi elogiaram a aproximação com Israel, a esquerda italiana é mais simpática à causa palestina.
- Acho que haverá desentendimentos sobre como lidar com o Hamas e com a intenção de Israel de fixar unilateralmente suas fronteiras - disse Harper.
Mas, de todas as questões políticas colocadas sobre a mesa, a maior mudança seria provavelmente no estilo.
- Prodi seria obviamente menos extravagante e mais previsível do que Berlusconi. Mas, do ponto de vista diplomático, isso também significaria uma maior carga de confiabilidade e uma maior facilidade no trato - afirmou Harper.