Preso desde o dia 7 de abril na superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, o ex-presidente Lula manifestou a vontade de receber a visita de Ciro Gomes, pré-candidato pedetista.
Por Redação - de Belo Horizonte
No cardápio do almoço de Ciro Gomes (PDT) com empresários mineiros em Nova Lima, Grande BH, no início dessa semana, havia uma sobremesa apetitosa. A aproximação do presidenciável a setores do PT que não engolem as candidaturas de Manuela D’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL) tornou-se a cereja do encontro.
Emissários do governador mineiro, Fernando Pimentel (PT), e do ex-governador gaúcho Tarso Genro, líder da corrente Mensagem ao Partido, também não conseguem perceber o sabor da possível presença do ex-prefeito paulistano Fernando Haddad. A aproximação com o advogado cearense parece-lhes mais palatável.
Nada de política
Ciro, por sua vez, não acredita na união das esquerdas, da forma como propõe o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com D’Ávila e Boulos. E afirma que eleição sem Lula está longe de ser uma fraude.
— Tem uma frase antiga que diz que a esquerda brasileira só se une na cadeia — disse Ciro.
Embora salive ao ver o potencial de votos do PT, desdenha das propostas de Lula no campo social e econômico. Desta forma, tenta navegar nas águas do mercado financeiro, sem causar muita marola.
— O projeto do PT definitivamente não é o meu. E não é porque sou eu, não era o do Brizola — lembrou, citando que o trabalhismo foi negado pelo PT durante 20 anos.
A visita ao líder petista, na prisão, no entanto, serve para desarticular o argumento dos setores mais à esquerda do PT.
— É muito improvável que alguém tenha mais respeito e carinho pelo Lula do que eu. Não cometerei a indelicadeza de tratar uma palavra sequer de política com ele (durante a visita) — adiantou.
Candidato
Para a plateia, Ciro diz que não espera o apoio de Lula nem do PT.
— Nós, do PDT, somos experientes e maduros. Estamos cansados de saber que o PT não apoiará ninguém, a não ser um deles próprios nessa eleição — afirmou.
Para o cientista político e professor do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marco Antonio Carvalho Teixeira, “Ciro adota uma posição de alguém que não pode se afastar do Lula; mas, ao mesmo tempo, sinaliza para um grupo enorme da sociedade que vê com bons olhos a prisão (do ex-presidente).
— Haverá a disputa pelo espólio do Lula, e o Ciro tem um potencial enorme para herdar parte desses eleitores. Há votos que iriam para o Lula, mas só para o Lula, podem não ir para outro candidato do PT.
Visita a Lula
Ele age com cautela, não deixa de ser solidário, mas não é uma solidariedade incondicional como da Manuela D'Ávila e Guilherme Boulos vêm prestando. Do outro lado, como ele quer competir, ele tem que avançar em um eleitorado que é anti-Lula.
Ele não deixa de reconhecer problemas na prisão, embora faça um discurso no qual exalta o ambiente democrático — disse Teixeira.
Preso desde o dia 7 de abril na superintendência da Polícia Federal, em Curitiba; o ex-presidente Lula disse aos advogados que gostaria de receber a visita de Ciro Gomes, pré-candidato pedetista. Lula encaminhou, na véspera, o pedido à juíza federal Carolina Lebbos, responsável por sua custódia.