Primeiro-ministro da França, Dominique de Villepin, enfrenta uma crescente pressão vinda de seus aliados conservadores para solucionar a crise em torno do nova lei do primeiro emprego, enquanto estudantes e sindicatos se mobilizavam para realizar novas manifestações. Villepin disse estar pronto para discutir as críticas dos sindicatos, mas recusou-se firmemente a considerar a hipótese de cancelar o contrato de primeiro emprego, conhecido como CPE, que permite aos patrões demitir sem justa causa, nos primeiros dois anos de contrato, os funcionários com menos de 26 anos de idade.
Estudantes na cidade universitária de Poitiers, no oeste do país, bloquearam as estradas na quarta-feira por um breve período de tempo como parte das ações tomadas contra o CPE, que, segundo seus críticos, criará uma geração descartável de jovens trabalhadores sem segurança no emprego.
- Não vamos desistir - prometeu o líder estudantil Jules Aime em Poitiers. Até 1,5 milhão de pessoas participaram de protestos em toda a França, no final de semana, contra o CPE e os sindicatos convocaram uma greve nacional para a próxima terça-feira. Comentaristas afirmam que a postura rígida adotada por Villepin no episódio pode acabar com suas chances de concorrer à Presidência do país em 2007.
O principal adversário conservador dele para esse pleito, o ministro francês do Interior, Nicolas Sarkozy, que também lidera o partido governista União para um Movimento Popular (UMP), deu apoio ao premiê até agora.
Mas deputados da legenda disseram que ele pode se distanciar da nova lei se a crise continuar.
- Ele (Sarkozy) deu mostras de solidariedade e fez propostas. Agora, precisamos ver o que o primeiro-ministro fará. De toda forma, Nicolas Sarkozy também possui uma análise da situação. E ele a expressará, certamente - disse a deputada Nadine Morano, do UMP, ao jornal Le Parisien.
Geralmente ávido para monopolizar as manchetes, Sarkozy tem adotado uma postura discreta em relação ao CPE, legando a seus aliados de partido a missão de atacar a medida.
Conflito aberto?
"Sarkozy está pronto para derrubar Villepin" disse uma manchete do Le Parisien.
A publicação afirmou que o ministro do Interior pode manifestar suas opiniões neste final de semana se o premiê não adotar nenhuma medida.
- Não podemos continuar na situação atual, em que todos se negam a ceder. As ruas dão um ultimato e o primeiro-ministro não deseja se curvar - afirmou o deputado Yves Jego, aliado de Sarkozy.
- Todos têm de dar um passo na direção dos outros - disse Jego ao canal BFMTV, na terça-feira à noite.
Sarkozy está duplamente exposto aos revezes da crise porque, na qualidade de ministro do Interior, tem a obrigação de policiar os protestos, alguns violentos. Na terça-feira, ele reuniu-se com líderes do sindicato Sud-PTT. Um dos membros da entidade ficou em coma depois de um conflito ocorrido durante uma manifestação realizada em Paris, no sábado. Promotores disseram não haver indícios de que a polícia fosse a responsável pelo estado do sindicalista.
Manifestações de rua podem derrubar governos na França. Protestos do tipo minaram os conservadores em 1995, e o bloco acabou perdendo as eleições realizadas dois anos mais tarde.
A morte de um estudante em manifestações de 1986 obrigou o governo de então, conservador, a cancelar uma reforma no sistema de ensino. A crise em torno do CPE é uma das maiores enfrentadas por Villepin em seus dez meses de governo. O premiê, que conseguiu ver a medida aprovada no Parlamento, diz que ela criará as vagas necessárias para diminuir a taxa de desemprego entre os jovens do país, atualmente em 23%.