Venezuela vive sob ataque de grupos fascistas com apoio dos EUA, denuncia Maduro
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Segunda, 17 de Fevereiro de 2014 às 08:20, por: CdB
A crise política que se abate sobre a Venezuela nos últimos dias ganhou contorno regional nesta segunda-feira, durante reunião da Mesa Diretora do Parlamento do Mercosul (Parlasur), em Montevidéo, que programou para os dias 17 e 18 de março uma sessão na qual os países integrantes expressarão, formalmente, o apoio ao governo do presidente Nicolás Maduro; além de rachaçar as ações perpetradas por violentos grupos fascistas liderados por Leopoldo López, líder de ultradireita que prega, abertamente, o golpe de Estado contra o governo democraticamente constituído. O deputado uruguaio Rubén Martínez Huelmo, presidente da Mesa Diretora do Parlasur, destacou a importância da integração dos países ao bloco:
– Sem desmerecer nenhum outro bloco regional, o nosso prima pela integração que vai muito além das questões comerciais e abarca objetivos sociais na integração para a nossa gente.
O Parlasur definiu a situação em que vivem a Venezuela e o governo do presidente Maduro como "difícil" e expressou seu apoio e solidariedade ao governo de Caracas. Maduro luta contra as forças reacionárias que, uma vez perdida as eleições presidenciais e regionais, começaram a insuflar manifestantes em protestos cada vez mais inflamados. Três simpatizantes do governo Maduro foram mortos, nas últimas horas, assassinados por integrantes dos grupos fascistas que recebem, segundo o serviço secreto venezuelano, total apoio dos Estados Unidos.
Na noite passada, o presidente Maduro anunciou que expulsará do país três diplomatas norte-americanos. Sem revelar os nomes, Maduro acusou o governo dos Estados Unidos de “tentar legitimar os atos desestabilizadores”, referindo-se aos protestos ocorridos no país desde a ultima quarta-feira. Em cadeia nacional de rádio e televisão, o presidente contou que recebeu um relatório do embaixador venezuelano na Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, Roy Chaderton, com informações sobre uma série de exigências que o governo Barack Obama teria feito ao país.
– Nosso embaixador relatou que o subsecretário adjunto para a América do Sul, do Departamento de Estado, Alex Leed, transmitiu mensagem ao governo da Venezuela, exigindo que nos sentemos para dialogar com a oposição – detalhou Maduro.
Segundo o presidente, o governo norte-americano exigiu a libertação de todos os detidos nos protestos recentes e “ameaçou” que a prisão de Leopoldo López (opositor acusado de ser o mentor dos atos violentos) poderia causar consequências negativas devido às ramificações internacionais que ele tem.
– Hoje, o monstro decidiu atuar e mostrar o rosto. Isso é um sinal de que detrás do que vivemos está o império que quer atacar a pátria. São exigências inaceitáveis e insolentes – disse Maduro, acrescentando que os Estados Unidos solicitaram que o pedido de prisão de López fosse retirado.
Maduro informou ainda que vai conversar com presidentes latino-americanos nesta segunda-feira para fazer uma “campanha de denúncia” das ameaças do governo norte-americano. Ele pediu que União das Nações Sul-Americanas (Unasul) interfira no caso e já recebeu, pela manhã, o apoio do Parlasur.
Em comunicado, a Chancelaria venezuelana declarou personae non gratae três funcionários norte-americanos em Caracas e disse que Washington busca promover e legitimar as tentativas de desestabilização da democracia venezuelana.
Articulação internacional
A ação dos EUA contra a Venezuela, segundo o presidente Nicolás Maduro, tem sido coordenada por Álvaro Uribe, ex-presidente colombiano e aliado dos norte-americanos na região. Uribe estaria por trás das manifestações opositoras no país ao lado de um dos meios de comunicação internacionais que divulgaram os protestos que deixaram três mortos, garante Maduro.
– Mandei uma mensagem muito clara (...) para esse canal de notícias (o colombiano NTN24), onde, por trás, está a mão de um fascista inimigo da Venezuela, Alvaro Uribe. É ele quem está por trás, financiando e dirigindo esses movimentos fascistas – denunciou Maduro, em discurso a milhares de simpatizantes reunidos no centro de Caracas.
Na quarta-feira, enquanto manifestantes encapuzados protagonizavam incidentes na Zona Leste de Caracas, o sinal da emissora colombiana NTN24 foi tirado das companhias DirectTV e Movistar, que transmitem-no na Venezuela. Maduro disse que a decisão de tirar o canal do ar foi tomada por seu governo. O NTN24 deu ampla cobertura a esses eventos, que, nas palavras de Maduro, buscavam apenas gerar "medo, perturbação e ódio" para promover um golpe de Estado.
'O problema Leopoldo'
O líder fascista do partido Voluntad Popular (Vontade Popular, VP na sigla em espanhol) Leopoldo López voltou a desafiar o governo venezuelano, nesta segunda-feira, ao publicar um vídeo na internet no qual convoca uma marcha para esta terça-feira, na qual ele garante que estará na frente das fileiras "que seguirão da Plaza Venezuela até a sede do Ministério das Relações Interiores, Justiça e Paz, pela Avenida Urdaneta". Com esta atitude, o integrante da ultradireita diz que vai "dar as caras" às acusações apresentadas contra ele.
– Tirei uns dias para pensar, compartilhar com minha família e poder tomar a melhor decisão nestes momentos. Segurei na luta, nas ruas, de mãos dadas com o povo – disse López, que é procurado há 72 horas como foragido da polícia, após a fuga diante da ordem de prisão determinada por uma corte de Justiça.
Conservador, vinculado aos partidos de direita da região, "López tem um estilo muito personalista, pouco institucional. Ele está sempre em permanente busca de protagonismo", na avaliação do analista político Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela.
A seu ver, a polêmica decisão de levar a população às ruas para promover uma mudança de governo é uma manobra que tem como objetivo "ambições pessoais", mas que pode levar à crise toda a coalizão opositora.
– Leopoldo é um dirigente que neste momento está promovendo danos importantes à oposição democrática – afirmou.
Sua habilidade em promover rupturas entre aliados políticos também foi destacada com preocupação por um conselheiro político da embaixada dos Estados Unidos em Caracas. Em documento desclassificado de 2009 vazado pelo Wikileaks, Robin D. Meyer, qualificou a López como uma “figura divisora da oposição, arrogante, vingativo e sedento de poder”, diz o documento que tinha como enunciado "O problema Leopoldo".
Ex-prefeito do munícipio de Chacao (2000-2008), López, de 43 anos, vem de uma das familias mais abastadas da elite venezuelana, ligada ao setor industrial e petroleiro. Como prefeito, participou ativamente dos protestos que culminaram no golpe de Estado que derrocou, brevemente, o governo Chávez. Desde então, não pode se desvincular do rotulo de “golpista”, atribuido após o golpe fracassado.
Em 2008, uma acusação de corrupção e mau uso de recursos públicos, como prefeito de Chacao, fez com que o político fosse inabilitado politicamente pela justiça da Venezuela. Essa decisão do tribunal, impediu que lider opositor se projetasse como potencial candidato presidencial. Formado em Harvard, sua carreira politica começou no partido Primeira Justiça, o mesmo de Capriles.
Um racha interno o levou a abandonar o grupo. Ele então se filiou ao partido conservador Um Novo Tempo, onde permaneceu pouco tempo, até fundar seu atual partido de ultradireita Voluntad Popular.