Em depoimento nesta terça-feira à CPI do Mensalão, o publicitário Marcos Valério declarou ser ex-empresário. De acordo com ele, depois dos acontecimentos, suas empresas praticamente deixaram de existir. O empresário voltou a pedir desculpas ao Brasil ao reconhecer que omitiu informações durante o depoimento anterior à CPI dos Correios, mas reveladas à Procuradoria Geral da República nas últimas semanas.
- Peço desculpas ao Brasil e aos deputados da outra CPI, bem como aos senadores. Naquele momento eu esperava uma sinalização dos verdadeiros detentores do empréstimo que fiz, então logo depois que 'as pessoas' se posicionaram, fui procurar as autoridades competentes - justificou o empresário, ao fazer menção ao PT.
O primeiro a fazer perguntas foi o relator da CPI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG). Ele quis saber o que levou Valério a fazer empréstimos para atender o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-deputado José Genoino, uma vez que eles não tinham nem renda, nem patrimônio para vingar os compromissos. Valério explicou como foram feitos os empréstimos, que separou em duas categorias.
- Os empréstimos para o PT tiveram o meu aval, o aval de Genoino e de Delúbio e foi direto para o PT. Eles foram feitos no BMG e no Banco Rural, um no valor de R$ 2 milhões e outro no valor de R$ 3 milhões. Depois foi solicitado um empréstimo junto ao BMG com o meu aval e de meus sócios.
Segundo Valério, este dinheiro foi repassado integralmente ao PT ou a quem o Delúbio mandava. De acordo com o empresário, o valor dos empréstimos chegou a R$ 55.217.271,02.
Valério negou existir uma nota promissória e passou para a mesa o documento exigido pelos bancos, com aval de Delúbio e Genoino, na renovação dos empréstimos, Valério entregou também para a mesa os contratos originais com a relação dos empréstimos que, corrigidos, podem chegar a até R$ 100 milhões.
Marcos Valério relatou que possui contas de publicidade junto ao governo desde a presidência de Fernando Henrique Cardoso e que os contratos foram mantidos desde então com aditivos "dentro da lei", lembrou. Entre os órgãos públicos listados por ele estão Banco do Brasil, Eletronorte e Ministério do Trabalho, através da agência DNA Propaganda, e o Ministério dos Esportes pela agência SMP&B Comunicação.
O publicitário, no entanto, negou que tais contas publicitárias estivessem ligadas a vantagens contratuais por associações ao partido do governo. Questionado pelo deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG) sobre as garantias dadas para que ele aceitasse fazer os empréstimos sem o risco de prejuízo, Valério disse que responderia com a "maior sinceridade".
- Segundo o Delúbio Soares (tesoureiro licenciado do Partido dos Trabalhadores), o PT tinha uma arrecadação de R$ 50 milhões anuais. Esse valor cresceria com a participação do partido no governo. O Delúbio cansou de me falar que o Dirceu sabia das operações.
Ainda explicou que não houve qualquer irregularidade nos processos de licitação do Governo Federal nos quais suas empresas de publicidade se saíram vitoriosas, e que suas empresas não eram beneficiadas nas concorrências.
- Preciso ressaltar que participei de algumas licitações do governo e perdi: Sebrae, Anatel, Ministério da Saúde, Aneel, Secom. Além disso, as maiores contas não estão comigo. Como no governo Fernando Henrique Cardoso, as maiores contas eram da DM9, que fez a campanha dele. Como no governo Lula, as maiores contas são do Duda Mendonça, que fez a campanha dele - afirmou Valério, em depoimento à CPI do Mensalão, garantindo que os valores recebidos em contratos e licitações são compatíveis com a verba repassada ao PT.
Marcos Valério também falou sobre sua viagem a Portugal com o ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri, entre os dias 24 e 26 de junho. Valério ressaltou que nunca se apresentou como representante do governo brasileiro e que a viagem serviria como parte