A Delegacia de Repressão às Ações do Crime Organizado (Draco) investiga, há três meses, um golpe que vem sendo realizado por médicos dentro de hospitais e de clínicas particulares do Rio, pondo em risco a vida dos pacientes.
Segundo a polícia, cerca de cem médicos, além de funcionários de 29 planos e empresas revendedoras de material hospitalar formam quadrilhas que fraudam pedido de produtos cirúrgicos, com o objetivo de receber das seguradoras por aquilo que não foi aproveitado no tratamento dos doentes. Para ampliar os lucros, essas quadrilhas passaram, inclusive, a utilizar material em mais de uma operação, o que contraria as regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e aumenta o perigo de contaminação dos pacientes.
A quadrilha vem agindo há cinco anos, começando com urologistas, mas já há denúncias de envolvimento de ortopedistas e cardiologistas. Mesmo não tendo estimado o prejuízo que as quadrilhas causaram às operadoras de planos, mas os investigadores chegaram a um revendedor de material cirúrgico que faturava, em média, R$ 14 milhões por mês. Ano passado, entretanto, essa mesma empresa teria faturado R$ 40 milhões em um mês.
A polícia procura pessoas que tenham sofrido infecção ao serem operadas por médicos que fariam parte das quadrilhas. Estão sendo procurados também pacientes que não receberam qualquer comprovante de que têm algum implante cirúrgico.
- Há suspeita de que esses doentes sequer receberam o implante prometido pelo médicos. Por outro lado, procuramos também doentes que tiveram infecções, já que há suspeita de que urologistas reutilizaram indevidamente material cirúrgico - disse um policial.
O vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Antônio Pinheiro, condenou disse que a polícia precisa investigar a fundo o caso para descobrir até que ponto a denúncia é verdadeira. Pinheiro afirmou ainda que o conselho deverá abrir imediatamente uma sindicância para apurar as responsabilidades, assim que forem informados os nomes dos médicos suspeitos de reutilizarem material cirúrgico ou participarem das fraudes.
- É um caso abominável. Não podemos permitir que pessoas que foram formadas para cuidar da saúde dos pacientes se aliem a grupos para dar golpes em planos de saúde.
Representantes das seguradoras passaram a se reunir com profissionais de outros planos de saúde para discutirem maneiras para fiscalizar a atuação dos médicos. Uma fonte ligada a um plano informou que os diretores já decidiram cobrar dos profissionais de saúde o lacre das embalagens dos produtos cirúrgicos.