Não há cinemas, indústria cinematográfica nem liberdade para as mulheres da Arábia Saudita, onde prevalece um severo islamismo. Mesmo assim, a diretora saudita Haifaa al-Mansour conseguiu escrever e dirigir três curtas-metragens que conseguiram relativo sucesso internacional.
"Tive sorte de começar meu trabalho nesse momento. Até agora, não encontrei oposição de nenhuma instituição oficial e as pessoas estão querendo escutar o que tenho a dizer", disse a diretora de 31 anos, graduada pela Universidade Americana do Cairo.
"Depois de 11 de setembro e da violência recente, tornou-se mais pertinente usar a arte e tratar das questões que nos dizem respeito", acrescentou, referindo-se aos ataques de 2001 contra cidades dos Estados Unidos, executados principalmente por militantes leais ao líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, de origem saudita.
No último ano, o país também vem lutando contra a Al Qaeda, que tem como objetivo derrubar a monarquia pró-EUA e transformá-lo num Estado islâmico com regras ainda mais rigorosas.
Os curtas de Mansour, que criticam as normas sociais no país ultraconservador, coincidem com a crescente pressão internacional e doméstica por reformas políticas.
Esta não é a primeira vez que Mansour nada contra a corrente. Cursar uma faculdade fora no país, como ela fez, normalmente é um privilégio reservado aos estudantes ricos do sexo masculino na Arábia Saudita.
"Meu pai estudou no Egito e não hesitou em me enviar para lá para que estudasse e morasse sozinha", contou Mansour.
Ela obteve um diploma em literatura em 1997 e voltou à Arábia Saudita, onde trabalha como analista para uma empresa de petróleo.
Mas há alguns anos seus instintos criativos foram despertados e ela começou a fazer um curso de direção por correspondência oferecido pelo New York Film Institute. O trabalho de Mansour financia uma parcela de sua nova paixão.
"Eu vou a festivais, conheço outras diretoras e produtoras árabes e é muito bom. Fazer o que faço me faz mais feliz e satisfeita do que jamais fui", disse ela.
Como a única diretora de cinema da Arábia Saudita, ela percebe o filme como um agente de mudança -- tema central de sua última produção, "A Única Saída".
O filme conta a história de três engenheiros sauditas -- um liberal, um fundamentalista e um terceiro sem ideologia definida -- cujo carro quebra. Os homens acabam se vendo discutindo entre eles sobre seus diferentes pontos de vista.
"O curta mostra o confronto de idéias na Arábia Saudita moderna e a necessidade de diálogo e tolerância. Não somos uma sociedade homogênea, temos uma rica diversidade", disse a diretora.
O filme foi elogiado este ano no Festival de Roterdã, ganhou o prêmio de melhor roteiro numa competição nos Emirados Árabes Unidos e foi exibido nos EUA e na Turquia.
O primeiro filme de Mansour, "Quem?", conta a história de um serial killer que consegue fugir vestindo uma abaia, o manto negro que cobre as mulheres sauditas dos pés à cabeça e algumas vezes esconde até o rosto.
Ao criticar indiretamente a abaia, o filme pede pela modificação de antigos costumes. "Tentei fazer as pessoas repensarem sobre muitas coisas que são tomadas como naturais", explicou Mansour.
O filme de 13 minutos custou mil dólares e foi rodado na Arábia Saudita.
A ausência de uma indústria cinematográfica saudita e as restrições às mulheres afetaram o trabalho de Mansour. As mulheres são proibidas de dirigir, trabalhar, viajar, abrir uma conta bancária ou dirigir um negócio sem a permissão de um homem.
Além disso, há pouquíssimas atrizes sauditas. Uma mulher que teve a autorização do marido para aparecer em uma novela teve de abandonar as filmagens depois que sua tribo ameaçou matá-la.
Mas incidentes como esse apenas fortalecem a determinação de Mansour.
Atualmente ela busca financiamento e atrizes para atuar em seu quarto filme, que terá como foco as mulheres sauditas, e se diz determinada a incentivar uma mudança na sociedade.
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