Até na luta livre, a coluna é uma área protegida. Quem bate nela perde pontos, senão a luta. Isto significa que, por mais desculpas que dê (aliás, na verdade, ele não deu nenhuma, só disse que estava “defendendo sua camiseta, seu país”) a joelhada de Zuñiga em Neymar foi bem dirigida. Ele bateu onde tinha que bater. E ainda forçou a cabeça de Neymar para baixo, o que expõe e força mais as vértebras da região lombar.
Como diz um amigo meu, “nem sempre o que é, parece; mas o que parece, seguramente é”. Assim foi a joelhada do colombiano. Que razões terá ele tido para fazer isto?
Francamente, a disputa da bola não foi. Ela estava do outro lado do corpo de Neymar. Zuñiga foi neste, não naquela. Uma vingança? Não há qualquer elemento que sugira isto. Neymar mais apanhou do que bateu durante o jogo. E não me parece que em nenhum momento ele tenha dado uma entrada dura em Zuñiga.
Uma ação intempestiva, um “ataque” de “mau senso”? Difícil àquela altura do jogo. Ainda mais na cara do juiz que, aliás, nada fez. Nem piou nem apitou. Um pífio, a não ser para dar um cartão mal dado para Thiago Silva.
A ação de Zuñiga deixa suspeitas pesadas no ar. Ele que conviva com elas e, se for culpado com dolo, que lhe façam mal. Muito mal. São Tomás de Aquino tem a receita: no inferno, os corpos e as almas serão devorados por dentro pelo verme do remorso. E o fogo que as consome desde dentro sai por seus olhos, sendo a única fonte de luz daquele local de trevas onde não há movimento. Onde o choro não verte lágrimas e os soluços não têm som.
Azar de quem estiver nesta condição.
Zuñiga: um destino a seguir e ver o que lhe acontece.
No futebol, há mais teias do que aranhas no sótão. Estas, em geral, estão na sala principal, querendo influenciar resultados. Ou nos socavões das máfias das apostas, em cujas bolsas de aposta tudo, desde o resultado final até quem vai fazer tais e quais gols em tal e qual momento.
Assim é.
Perde o futebol? Sim, pode perder. Mas ganha quem tem a cara limpa para se olhar no espelho.
Neymar tem. Thiago Silva tem.
Azar de quem não tenha.
Flávio Aguiar, é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.