Mojica é gênio. Cinema de vanguarda que (a)guarda grandes méritos. Questionado por seus amigos/ concorrentes: Candeias insiste:
- O maior mérito foi ter conseguido levar seu personagem Zé do Caixão por todas essas décadas.
E é verdade. Estupidamente associado com coisas que fugiam de seu universo intelectual, Zé do Caixão não é Nietzsche assim como sofreu o próprio Candeias tentando desvencilhar o final catártico de A Margem de teorias literárias. Não instituiu a casa do pai solteiro nem o lar da criança malcriada. Mas, assim como toda a classe de cineastas dos anos 60 se mobilizava para que nenhuma influência estética poluísse a linguagem espontânea de Mojica (Person, Glauber), sua marca poluía a ordem natural das coisas. Se hoje temos um cidadão que já fez de praticamente tudo na vida, temos de admitir que tudo se fez com ele também. A última novidade é a coleção masculina de Alexandre Herchcovitch apresentada no sexto dia do São Paulo Fashion Week. O desfile foi uma homenagem ao maior nome do cinema de horror da América Latina. Zé do Caixão, ou José Mojica Marins renascido, faz 40 anos esse mês. Detalhe, o estilista já vai assinar o figurino da próxima fita do cineasta.
O Zé do Caixão é um desses personagens que são como todo mundo. Teve bons dias e péssimos dias, chegando a exasperação (pornochanchadas de terceira). Foi astro da música e fiscal de manifestações satânicas (quando foi conferir a estréia de O Exorcista). Foi um dos únicos homens de cinema (se não o único) que pode se vangloriar de ter implantado uma inventiva escola de atuação. Hoje em dia tem seu trabalho reconhecido internacionalmente. Já ganhou mostras retrospectivas na França, no Canadá e nos Estados Unidos. E olha que é um cara da boca do lixo, cinema de invenção, marginal e autoral.
Uma homenagem a um certo tipo macabro
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Segunda, 02 de Fevereiro de 2004 às 20:55, por: CdB