A coluna foi assistir ao novo filme de Sérgio Rezende, Onde Anda Você, que é uma obra nostálgica, mas realista, que agrada mais pelo que relaciona do que pelo que apresenta. Com influências assumidamente fellinianas, a fita traz questões que a primeira vista parecem antagônicas, como a imortalidade do artista e a temporalidade da arte. Assim como o recente Apolônio Brasil, Campeão da Alegria, de Hugo Carvana, Onde Anda Você é uma afirmação da temporalidade da arte. O primeiro é uma obra igualmente saudosista, direcionada as chanchadas, com a certeza de que seria impossível recriar tal período nos dias de hoje. Onde Anda Você é um pouco mais ousado por apontar as mudanças no humor televisivo que levaram a saturação de um certo gênero dentro do humorismo. Vendo por esse ângulo, o filme é bastante delicado. Mas no total, sofre dos mesmos defeitos de Apolônio Brasil, que podem ser sintetizados em uma leve errada de mão.
O humor saudosista perseguido pelo comediante Felício (Juca de Oliveira) é bastante próximo ao popularizado por duplas como Lauro Borges e Castro Barbosa, Oscarito e Grande Otelo, e Paulo Gracindo e Brandão Filho. O mesmo humor é apropriado pelo roteiro para contar a história (o primeiro diálogo do filme mostra bem isso). Assim como em Apolônio Brasil, a fita chega ao final e fica liquidada qualquer tentativa de retornar ao gênero, delimitando o segmento à que se refere a uma época passada, distinta, e ultrapassada.
Onde Anda Você aponta com uma certa classe toda a problemática que aflige o humor dos dias de hoje. Peca por não conseguir articular o humorismo saudosista com a tal perda da inocência atual e, involuntariamente acaba se assumindo como inviável, assim como o tema que trata.
Um auto-retrato dentro do retrato
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Terça, 06 de Abril de 2004 às 07:16, por: CdB