Rio de Janeiro, 21 de Janeiro de 2025

Treze anos no espaço

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Sábado, 04 de Fevereiro de 2006 às 21:17, por: CdB

O primeiro satélite brasileiro de coleta de dados (SCD-1), projetado e construído no Brasil pelo INPE, com participação de diversas empresas, foi lançado em 9 de fevereiro de 1993. E ainda está funcionando. A história desse satélite é interessante, porém já pode ser vista em vários lugares (vide www.inpe.br). Vou contar uma história paralela ao desenvolvimento desse satélite e que reflete bem o espírito de alguns cientistas brasileiros.

Para se testar os satélites, o INPE adquiriu diversos equipamentos. Caríssimos. Durante os testes do SCD-1, iniciava-se o desenvolvimento do CBERS, satélite de sensoriamento remoto feito juntamente com a China, soube que iriam comprar outro equipamento de testes a um custo de quinhentos mil dólares. Como eu desenvolvera o "software" do equipamento para testar o computador do satélite, observei que o equipamento para o satélite era um pouco mais complicado, porém poderia ser desenvolvido por nós mesmos.

Resolvi propor o desenvolvimento. Sabia que iria esbarrar em alguns grandes obstáculos. Primeiro, a compra de equipamentos caros rende viagens ao exterior para as equipes e, também, dólares em diárias. Todo mundo fica feliz.

Em segundo lugar, teríamos de convencer as chefias que tínhamos a competência para desenvolver tal sistema. E, terceiro, teria de convencer as equipes que, ao invés de receberem diárias em dólares, receberiam muito trabalho.

Surpreendentemente, os pesquisadores envolvidos ficaram muito interessados em desenvolver no Brasil tão caros equipamentos. E nem pensaram nos dólares e viagens perdidos. Porém, não foi possível convencer as chefias. Não acreditaram na competência da equipe. Também, estimávamos o custo em apenas dez mil dólares. Contra os quinhentos mil...

Porém, quando se montava o SCD-1, um problema ocorreu entre o receptor e o computador de bordo, o excesso de números zeros transmitidos ao computador fazia o receptor perder a comunicação (perda de sinal como os que vemos na TV). Tive um momento de lucidez e propus uma solução por "software".

Minha solução foi a mais simples. E a escolhida. Mas havia um problema, o equipamento de testes importado não era flexível o suficiente para resolver o problema. Então, desenvolvemos o equipamento, ao menos uma parte do que  propuséramos.

Em 1992, o governo resolveu lançar o SCD-1, o foguete lançador escolhido foi o Pegasus, que é lançado de um avião. Isso trouxe um grande problema. Além de caro, o equipamento importado era muito grande, o que inviabilizava o teste no momento do lançamento.

Então, o gerente da missão, Carlos Santana, lembrou-se dessa história e resolveu desenvolver um equipamento para o satélite. Muita gente opôs-se à iniciativa. Fiquei responsável para desenvolver o "software". Teria quatro meses para desenvolver o sistema. Iria corresponder à confiança do gerente nem que tivesse que trabalhar 24 horas por dia.

Mas não foi preciso. Optei por uma linguagem estruturada e bem definida, o Pascal, e pelo compilador com depurador de programas integrado, o Turbo. Por incrível que pareceu a alguns programadores, não fiz programa para tudo, por exemplo, editor de texto, usei os existentes para ganhar tempo. E em dois meses o programa de duas mil linhas já estava em operação.

O gerente gostou tanto do resultado que quis usar na Estação Terrena em Alcântara, Maranhão. E mais, quis implementar a transmissão dos dados do satélite para São José dos Campos por telefone. Na época, o INPE pagava caro por duas linhas exclusivas.

Como não foi possível lançar o satélite em dezembro de 1992, fui voluntário para ir à Alcântara. Vários pesquisadores não queriam ir devido as precárias condições da Base e às diárias de baixo valor.

E no dia 9 de fevereiro tive a honra de receber as primeiras informações do satélite em órbita e de ser o primeiro brasileiro a comandá-lo. Nossa felicidade está registrada em uma foto n

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