Novos tremores assustaram os famintos e desabrigados nesta quinta-feira na cidade devastada de Banda Aceh, na Indonésia, mas seu povo está determinado a sobreviver e reconstruir a vida.
- O terremoto pode acontecer em qualquer lugar. Eu sou daqui, me sinto confortável aqui e pretendo ficar - disse Cut Yusri, 50, na fila para receber arroz, macarrão e óleo de cozinha em um posto de ajuda.
Quase 100.000 pessoas, cerca de dois terços de todos os mortos pelo tsunami na Ásia, que atingiu seis países no dia 26 de dezembro, morreram em Aceh. Banda Aceh, capital da província indonésia, com 300.000 habitantes, foi devastada.
Com grande parte da cidade destruída, as pessoas são forçadas a procurar entre destroços de edifícios e barcos levados pela água, enquanto tropas patrulham as ruas. Até mesmo um soldado envolvido na limpeza dirige uma escavadeira armado - uma lembrança de que Aceh é uma província marcada por um conflito separatista.
Testemunhas disseram à Reuters que ouviram tiros nesta quinta-feira, supostamente de conflito entre membros do Movimento Aceh Livre (GAM) e militares perto do aeroporto onde está sendo feita a distribuição de ajuda. Eles disseram que viram três corpos, que acreditam ser de membros do GAM.
Não houve confirmação imediata, mas o Exército da Indonésia disse à Reuters que surgiram conflitos violentos na região nos últimos dois dias. Segundo a ONU, a distribuição de ajuda continuou no aeroporto.
A rebelião separatista de três décadas deixou pelo menos 12.000 mortos, a maioria civis.
O coordenador da Ajuda de Emergência da ONU, Jan Egeland, pediu para os governos de Sumatra, Sri Lanka e Somália manterem a paz, sob risco de perderem a ajuda, que já chega a 3,7 bilhões de dólares.
- Precisamos do cessar-fogo, da paz, porque se surgirem novos conflitos, não podemos ajudar as pessoas - disse Egeland nesta quarta-feira.
As pessoas levantaram cedo nesta quinta-feira para começar a busca por comida e água limpa, essencial para evitar doenças. A Organização Mundial de Saúde advertiu que o número de mortos pode dobrar, para cerca de 300.000, se não forem tomadas medidas nesta semana para evitar doenças como cólera e disenteria em todos os países afetados.
Com o cheiro dos corpos em decomposição na cidade, centenas de pessoas se concentraram na frente de um posto de ajuda improvisado, que já foi um shopping, esperando pela abertura. Quando o tremor aconteceu, todos fugiram para a rua, pulando em motocicletas, gritando e temendo uma nova onda assassina. Mas a fila voltou a se formar rapidamente.
- Não temos nada. Todo mundo é igual, ricos e pobres. Agora todos têm que ficar na fila - disse Yusri.
Poucas lojas reabriram e, na zona leste da cidade, em um mercado tradicional, muita gente comprava sacos de arroz. Soldados começaram a repintar a principal mesquita de Banda Aceh - outro sinal simbólico de que a cidade sobreviverá. Mas levará tempo para que o horror seja esquecido. Centenas de corpos ainda estão sendo recuperados.
Na orla da praia, dezenas de corpos estão nas ruas, alguns deles dentro de sacos plásticos. Alguns têm número de identidade pintados, outros têm cartazes com alguns detalhes sobre a pessoa. Um deles dizia, em idioma indonésio: "Idris, homem, soldado."