Desidrata-se o grupo que Temer lidera, no Congresso, com mais de dois terços dos parlamentares
Por Gilberto de Souza e correspondentes - de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo
O VI Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), encerrado na noite passada, definiu que a legenda apoia somente o caminho das eleições livres e diretas como forma de solucionar o impasse político em que o país permanece desde o golpe de Estado, há cerca de 400 dias. Os congressistas do partido também substituíram o jornalista Rui Falcão na Presidência da legenda. A senadora Gleisi Hoffmann (PR) venceu a disputa com os votos válidos de 367 delegados (69%), contra 226 do senador Lindbergh Farias (RJ) (31%).
A decisão de seguir o caminho defendido por milhares de manifestantes nas ruas, neste domingo, pelas ‘Diretas Já!’, acrescenta mais um dado no cenário que se desenha no Congresso. A agenda segue cada vez mais inexorável para o presidente de facto, Michel Temer.
A defesa das eleições diretas, amplas e irrestritas, que ganha as ruas com o apoio de manifestantes da esquerda à centro-direita, agora com a adesão formal dos petistas, ganha corpo junto às legendas do 'Centrão', na Câmara dos Deputados. Embora possível, em tese, levaria um tempo superior aos 30 dias que outra solução, em nível jurídico-parlamentar, aponta para o afastamento de Temer. A consequência seria a realização de eleições indiretas, para um mandato-tampão até 2018.
Morte cai bem
A proximidade das eleições constitucionalmente previstas para outubro do ano que vem é um dado que preocupa parlamentares aliados a um governo em queda. Neste domingo, segundo o principal diário conservador carioca, Temer já falava em morte. Na morte dele, caso insistam que deixe o cargo para responder por crimes de que é suspeito, em um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Embora não tenha falado em suicídio, o peemedebista acredita ser necessário que seja morto, literalmente, para deixar o cargo. Na realidade, não seria necessário. Bastaria que fosse preso e, uma vez condenado, respondesse por seus crimes.
Advogado experiente, Temer tem preparado várias camadas de defesa em sua estratégia jurídica. Tudo para permanecer no Palácio do Planalto. Acusado de receber e distribuir propina, em uma rede criminosa da qual faria parte o suplente de deputado Rodrigo Rocha Loures, hoje preso e propenso a uma delação premiada, Michel Temer conhece os riscos de parar no fundo de um xadrez, na sede da Polícia Federal (PF). Portanto, na aludida declaração ao presidente do Senado, Eunício de Oliveira (PMDB-CE), a morte lhe parece a melhor alternativa.
Na Papuda
O grupo que Temer lidera, no Congresso, com mais de dois terços em ambas as Casas legislativas, desidrata-se rapidamente. Até as análises mais conservadoras apontam prazo inferior a 30 dias para sua queda. Basta que se reduza abaixo de 178 votos para que seja afastado do poder, imediatamente. Trata-se da margem mínima para que seja aceita a sua denúncia, no Plenário da Câmara, em processo que tramita do STF.
O ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato, na Corte Suprema, segundo analistas ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil, tende determinar que responda por crimes de corrupção e formação de quadrilha, entre outros. Fachin baseia-se na delação premiada do empresário Joesley Batista — acionista do Grupo JBS. Também nas provas colhidas, posteriormente, pela PF. Rocha Loures já está preso há 48 horas na carceragem da PF. Deverá ser conduzido à penitenciária da Papuda, nas próximas horas.
A fórmula jurídica lhe parece insolúvel, tamanha eficácia do inquérito a que está submetido. E a decisão do PT, de escolher o rumo das eleições diretas, complica de vez a permanência de Temer no cargo. Com a oposição, liderada por petistas e demais legendas da esquerda, entretida na defesa de uma solução para a qual seria necessário um longo percurso no Parlamento, capaz de alterar a Constituição Brasileira, a caravana da direita passa incólume.
Gatilho do TSE
O grupo integrado por Temer e o hoje presidiário Eduardo Cunha (PMDB-RJ), líderes do golpe que depôs a presidenta Dilma Rousseff (PT) em Maio do ano passado, segue liberado para escolher, praticamente sozinho, o sucessor do mandatário mais impopular na História do país. Temer, de qualquer forma, isola-se no Palácio do Jaburu. É para lá que voltou às pressas, na noite passada, após saber da prisão de Rocha Loures.
Principal aliado de Temer junto à extrema-direita, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) segue isolado no ninho tucano. Embora seja a maior fiadora do governo em curso, parte da legenda já defende o desembarque na semana que vem.
Pretendem fazê-lo após o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) das acusações que pesam sobre a chapa Dilma-Temer. Um pedido de vistas ao processo, por algum ministro que se mantenha aliado a Temer é algo previsto por aqueles analistas ouvidos por repórteres do CdB como “bastante provável”. Este, no entanto, serviria apenas como gatilho para uma saída mais urgente.
Na quinta-feira, dia final do julgamento no TSE, a falta de uma solução final para a permanência de Temer no governo seria a deixa para o STF entrar em cena. Ao transformar Temer em réu, deflagraria o seu afastamento, sob a aprovação de um Congresso pronto para iniciar as eleições indiretas. Candidatos não faltam.
Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do jornal Correio do Brasil.