Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Teatro político e voz das ruas

Arquivado em:
Segunda, 17 de Agosto de 2015 às 12:16, por: CdB
Por Celso Lungaretti, de São Paulo:
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O teatro da política não oferece grandes opções
Em termos quantitativos, o protesto anti-Dilma deste domingo (16/08) superou o de abril e ficou aquém do de março.
Um instituto de pesquisa já captou bem o sentimento de impotência dos brasileiros: eles, em sua expressiva maioria, querem o impeachment da presidenta, mas não acreditam que o impeachment vá acontecer.
Então, é compreensível que, depois do grande desabafo de março, seu ânimo tenha arrefecido um pouco. Nosso povo, simplesmente, está descrente dos podres Poderes. Supõe que eles não ouvirão a voz das ruas, então acha inútil ir às ruas. "Conheço bem minha história/ Começa na lua cheia/ E termina antes do fim"...
Mas, o teatro da política não substitui a realidade da política e, principalmente, da economia. Joaquim Levy não tirará o Brasil da recessão. Pelo contrário, se não for detido, nos conduzirá à depressão.  Sai bolsa-família, entra sopa dos pobres.
As manobras de Dilma para escapar do impeachment aprofundam a descaracterização do seu governo e a desmoralização do PT. Pensa que ganha tempo pactuando com Renan Calheiros (aquele que também fazia o serviço sujo para Collor), submetendo-se mais ainda (é possível?!) aos grandes empresários, ajudando os convênios de saúde a lesar os associados, etc.
Parece que desistiu de elevar a idade mínima para aposentadoria, de forma a fazê-la coincidir com as disponibilidades de caixa da Previdência. Isto se falou logo que a agenda (de benesses para os exploradores e maldades para os explorados do) foi divulgada, depois ninguém mais tocou no assunto.
O Levy deve ter deixado esta abominação para 2016, se ele e a Dilma ainda estiverem nos cargos atuais.  Eu apostaria que ou um ou outra não estará. E, para não perder a aposta,  cravaria também duplo: a saída de ambos.
O certo é que, em país pobre como o Brasil a receita neoliberal, regime imposto a quem não tem mais gordura nenhuma para queimar, nem remotamente cura o paciente. Mata. E, cedo ou tarde, pouco importando quantas se arrematem, e por quanto, das almas dos vilões da política, será a nossa triste realidade que determinará o desfecho do drama, não as traições e velhacarias da Praça dos Três Poderes..
Não adianta minarem-se, a golpes de caneta ou outros, os caminhos legais que levam ao impeachment, se a penúria continuar crescendo e fazendo crescer a insatisfação popular. A pressão vai aumentar até explodir a panela, fazendo um barulho tão ensurdecedor que os panelaços parecerão brincadeira de criança.
Dilma, você jamais terminará seu mandato caso continue atirando-se nos braços dos capitalistas e dos fisiológicos. Se não há como vencer a atual parada mantendo sua dignidade, escolha a dignidade. Ela é muito mais importante do que o poder!
O povo não é muito sofisticado, raciocina de forma linear: dize-me com quem andas... Aqueles com os quais você tem andado ultimamente são a escória moral da humanidade. Até porcos, gambás e vermes manteriam distância deles.
Mas, se teme que, guinando à esquerda, acabará martirizada como Allende, renuncie antes que a encostem na parede. Saia de cabeça erguida, e não como uma esquerdista que se tornou neoliberal tardia... a troco de nada, pois nem assim escapará da degola. Quem viver, verá.

DEDICO ESTA MÚSICA  (PALPITE INFELIZ) AO PRESIDENTE DA CUT...

...POR HAVER DITO BOBAGEM MUITO MAIOR QUE A DO WILSON BATISTA, A QUEM NOEL ROSA RESPONDEU COM UM CALABOCA ANTOLÓGICO:
É besteira "ir para as ruas entrincheirados, de armas na mão, se deitar e lutar", sem ter feito a lição de casa lá atrás. Amadores sem treinamento estão muito longe de serem "o exército que vai enfrentar essa burguesia"; só servem como alvos, patinhos de parque de diversão.
E luta armada se convoca quando um governante é tirado do poder ao arrepio da Constituição. O que se vê, até agora, são pessoas à cata de uma justificativa legal para o impeachment de Dilma.
O que é isso, companheiro? Levantando a bola pro inimigo?!
 
Têm o direito de tentarem, desde que continuem dando os passos previstos na nossa Carta Magna. O Congresso Nacional poderá fulminar cada um desses pedidos, agindo igualmente de acordo com os pesos e contrapesos de uma democracia.
O Vagner Freitas é que está viajando na maionese, com suas bravatas vazias. Fez-me lembrar o Luiz Carlos prestes, pouco antes do golpe de 1964, vangloriando-se de que o Partido Comunista já estava no poder. A propaganda inimiga deitou e rolou em cima de sua incontinência verbal, assim como hoje está deitando e rolando em cima do que ela qualifica de ameaça ao Congresso.
Os arroubos demagógicos também são inoportunos. Ao qualificar de golpistas os que até agora não se comportaram como tais, candidata-se a ser mais um menino que grita lobo! fora de hora.
Golpe é isto aqui
Infelizmente, não é o único. Até a presidenta segue o conselho de Goebbels e fica martelando sem parar uma mentira, para que acabe passando por verdade. Desmoraliza-se aos olhos das pessoas conscientes e equilibradas.
Golpistas foram os milicos que tomaram o poder pela força em 1930 e 1964, muito dos quais participaram de ambos os golpes, fascistas com carteirinha assinada, embora haja na esquerda quem, aberrantemente, estabeleça uma diferenciação entre a primeira e a segunda quarteladas.
Por enquanto não há tanques nas ruas, nem sequer vivandeiras batendo na porta dos quartéis. E o nosso interesse é que continue assim, pois uma luta armada agora seria mais desigual ainda para o nosso lado que a dos anos 60/70. Daquela vez tínhamos bons guerreiros, só que foram insuficientes. Agora nem isso temos.
Então, Freitas, devagar com o andor, que o santo é de barro...
Celso Lungaretti, jornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar ainda secundarista e participou da Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e processado, escreveu o livro Náufrago da Utopia. Tem um ativo blog com esse mesmo título.
 
Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.
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