O espanhol "Mortadelo y Filemón" foi o filme de maior bilheteria na Espanha, superando grandes produções americanas, embora ainda seja uma exceção num panorama em que o cinema espanhol tenta com pouco sucesso reduzir a hegemonia americana, recorrendo principalmente à arma das co-produções.
Colaboração internacional, sobretudo da América Latina, e histórias e personagens profundos, são a grande aposta artística do cinema espanhol para tentar fazer frente ao gigante americano nos próximos anos.
Um domínio que refletem os dados do Ministério da Cultura espanhol: 92,45 milhões de espectadores assistiram filmes americanos em 2003 contra 35,22 milhões que assistiram filmes europeus, entre os quais os espanhóis foram os preferidos do público.
"Estamos muito atrás do cinema americano, mas é um fenômeno mundial", disse à AFP Juan Romero, da Federação de Associações de Produtores Audiovisuais Espanhóis (FAPAE).
Embora nos últimos anos a produção de filmes espanhóis e suas estréias tenham sido uma "tendência crescente", que passou de 52 filmes espanhóis em 1992 aos 126 produzidos em 2003, ainda não está longe de sequer fazer sombra às estréias americanas que a cada semana inundam os cinemas europeus.
Financiados em 86% pelo setor privado e em 14% pelo público, a despesa média com filme espanhol caiu no último ano até 2,26 milhões de euros contra 2,4 milhões de euros em 2002.
Estes números mostram que o cinema espanhol não pode competir com as superproduções americanas, preferindo voltar-se aos bons roteiros e à colaboração com outros países, especialmente os latino-americanos.
"Temos uma indústria muito precária e não podemos competir em igualdade de condições com o cinema americano", portanto "é importante que um país tenha sua própria identidade cultural", disse em Málaga o roteirista David Serrano.
"Roteiros profundos, divertidos, emocionantes, com papéis maravilhosos, com tempo e dinheiro para filmar, montar, promover", reivindicava em 31 de janeiro a presidente da Academia Espanhola de Cinema, Mercedes Sampietro.
O cinema espanhol é um firme defensor da proteção da identidade cultural, uma identidade afim na Europa e na América Latina, que o tem levado nos últimos anos a um intenso processo de co-produções como forma de dividir os gastos para fazer frente aos americanos.
A relação se intensificou especialmente com o cinema latino-americano, que sofreu um grande boom nos últimos anos, estabelecendo uma corrente de troca entre atores e diretores espanhóis e latino-americanos.
Ricardo Darín, Gael García Bernal e Diego Luna, entre outros se tornaram nomes muito conhecidos na Espanha graças a esta nova relação, que busca compartilhar despesas (permite um orçamento médio maior de 2,8 milhões de dólares) e maiores possibilidades de estréia de um filme de uma língua falada por 300 milhões de pessoas, no caso, o espanhol.
Dos 126 filmes espanhóis que estrearam no ano passado, 49 foram co-produções dos quais 25 foram latino-americanas, com destaque para Argentina e Cuba como os latinos que mais participaram de co-produções com a Espanha.
Uma exceção nesta estratégia é a produtora espanhola Fantastic Factory, cria do produtor Julio Fernández e do diretor de cinema de origem filipina Bryan Yuzna (autor do conhecido "Reanimator"), que busca competir com o cinema americano em seu próprio território com filmes de terror e ficção científica, rodados em inglês para tentar entrar num mercado americano pouco afeito ao cinema estrangeiro.
Superar o cinema americano: a missão impossível do cinema espanhol
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Terça, 04 de Maio de 2004 às 14:06, por: CdB