O chanceler do Sudão rejeitou nesta sexta-feira a declaração norte-americana de que há genocídio na região de Darfur e disse que os Estados Unidos estão usando uma crise humanitária para fins políticos.
Mustafa Oman Ismail disse à Reuters que a declaração feita nesta quinta-feira pelo presidente George W. Bush e pelo secretário de Estado Colin Powell foi "uma posição isolada", adotada no calor da disputa pelos votos dos negros na eleição presidencial de novembro.
- Eles não deveriam usar um problema humanitário para sua agenda política - disse ele em inglês, durante visita à Coréia do Sul.
- Sabemos que há uma eleição em andamento. Sabemos que os partidos, republicano e democrata, estão competindo pelos votos dos afro-americanos - afirmou.
Rebeldes lançaram uma revolta em Darfur em fevereiro de 2003, após anos de conflitos entre os agricultores locais, de origem africana, e os nômades árabes pela posse da terra e da água. O governo recorreu às milícias árabes Janjaweed para combater os rebeldes.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 1,2 milhão de pessoas tiveram de fugir de suas casas e que até 50 mil morreram por causa da violência direta ou devido à fome e às doenças, o que transforma a situação de Darfur na pior crise humanitária da atualidade.
Ismail disse que dificilmente os EUA vão conseguir aprovar no Conselho de Segurança da ONU uma resolução com sanções contra o Sudão, porque essa medida "é irracional, é politizada e não é equilibrada".
- Eles querem se precipitar e dizer que há genocídio, como se precipitaram para dizer que havia armas de destruição em massa no Iraque - afirmou o chanceler.
- Genocídio é o que está acontecendo agora por obra das forças norte-americanas no Iraque ... e no Afeganistão - disse Ismail após reunião com seu colega sul-coreano, Ban Ki-Moon.
Washington declarou nesta quinta-feira que a violência em Darfur equivale a um genocídio contra os negros e pediu ao mundo que apóie o envio de uma força de paz africana maior.
- Só a ação externa pode conter as mortes - isse Bush.
Mas o chanceler sudanês disse que nem todos pensam assim.
- A União Africana na sua cúpula disse que não há genocídio. A União Européia disse que não há genocídio - disse ele.
De acordo com ele, o Sudão sabe que existe uma "crise humanitária" e está empenhado em fornecer segurança, direitos e assistência ao povo de Darfur. "Espero que os norte-americanos lidem com esta questão de forma racional", disse.
Cartum pediu à União Africana e ao Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos que monitorem com mais rigor a situação dos direitos humanos na região.