O Centro de Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência - também conhecido como SOS Mulher - que funciona no Hospital Estadual Pedro II, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, já atendeu 5.121 mil mulheres e realizou 48.344 procedimentos desde sua inauguração em 8 de março de 1999.
O serviço foi implementado pelo secretário de Saúde, Gilson Cantarino, preocupado com dados que identificavam as agressões ao sexo feminino como um problema relacionado à qualidade de vida e saúde da mulher.
- Elevar a auto-estima das mulheres agredidas, romper o ciclo de violência estabelecido e levar o agressor a refletir sobre sua atitude são alguns dos objetivos do SOS Mulher - diz o coordenador Moysés Retchman.
A dependência emocional também é muito grande, segundo Recthman.
- A mulher agredida vem até nos e diz: ´ele é tão bom quando não me bate'. Então, precisamos discutir onde está a auto-estima desta mulher que considera bom o homem que bate nela. O nosso trabalho nos grupos de apoio é basicamente para levantar a auto-estima dessas mulheres - completa.
As mulheres atendidas pelo serviço têm a sua disposição assistência médica, psicológica, social, de enfermagem e de natureza continuada. A assistente social Daniele Baptista que atua no programa conta que nos dados estatísticos de agressão 70% das mulheres agedidas dependem financeiramente dos companheiros.
Muitas vezes, as mulheres vítimas de violência doméstica mantêm uma certa cumplicidade com as atitudes agressivas do parceiro.
- São mulheres que vêm de famílias onde os castigos físicos faziam parte do cotidiano e é como estivessem repetindo estas situações em seus relacionamentos atuais - analisa Recthman.
O perfil da maioria das mulheres atendidas pelo SOS Mulher (39%) indica que elas têm entre 19 e 29 anos. Quanto à situação conjugal, 35% das mulheres são solteiras com parceiro íntimo. 70% das mulheres atendidas pelo serviço não trabalham e 71% têm escolaridade até 1º grau incompleto.
Recthman observou que 34% das mulheres agredidas têm lesão da face, o que reforça o objetivo do agressor em humilhar a vítima esbofeteando-a. Das adolescentes agredidas 2/3 foram espancadas por familiares (pai, mãe, irmão etc.) e 1/3 já apanham do companheiro, conforme retrata o coordenador do SOS Mulher.
Histórias de violência doméstica misturam, muitas vezes, componentes como o alcoolismo, desemprego e até mesmo drogas. A dona de casa R.P.R.L, 40 anos, moradora de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, e casada há 19 anos diz que quando chegou agredida ao Hospital Pedro II foi depois encaminhada ao SOS Mulher.
- Eu chorava muito. Meu marido me agredia há muito tempo, mas eu não falava para minha família. Os vizinhos viam, mas eu não contava para meus parentes. Eles não iam gostar e, então, agüentava tudo sozinha - relatou.
A sucessão de agressões físicas a ela e verbal ao casal de filhos, de 18 e 8 anos, levou R. a beber.
- Eu me entreguei ao álcool por desgosto. Trabalhava e gastava todo o meu dinheiro com bebida. Hoje, estou livre da bebida e agora cuido mais de mim e ele não me bate mais - enfatiza R. que freqüenta o SOS Mulher há seis anos.
Uma parceria firmada entre SOS Mulher e o fórum de Santa Cruz, firmada no ano passado, possibilitou o atendimento aos agressores que estão sendo processados e precisam freqüentar palestras de reflexão com assistentes sociais e psicólogos. O tratamento dessa parceria visa também os agressores e não somente as mulheres agredidas.
O juiz da 2ª Vara Criminal e do 19º Juizado Criminal de Santa Cruz, José Nilo Ferreira, diz que as penas visam a ressocialização. Portanto, a proposta da participação nos grupos assistidos por psicólogos e assistentes sociais tem a finalidade de conscientizar o agressor. Desde sua implantação, há um ano, já participaram 30 homens dos grupos de reflexão.
No fórum de Santa Cruz