O representante da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud) no Brasil, Carlos Lopes, disse nesta sexta-feira que está impressionado com a generosidade e a solidariedade brasileiras após a catástrofe ocorrida no sul da Ásia. Ele disse que isso não diz respeito apenas ao governo e às instituições, mas também aos cidadãos.
- É uma coisa muito tocante, que nos impressiona muito. Neste momento, há quase 300 toneladas de mantimentos e de outros tipos de ajuda de emergência estocadas. O grande problema é escoar isso - ressaltou Lopes.
Ele disse que os meios de transporte são muito caros e que, às vezes, custam mais que os próprios mantimentos. Por isso, para uma ajuda emergencial aos países afetados, a ONU pede uma contribuição de US$ 1 bilhão e considera que o dinheiro é mais fácil de ser entregue.
- O Pnud recebeu da Tim uma ajuda de R$ 500 mil, que vai ser aumentada com contribuições adicionais das pessoas que fazem telefonemas pagos. Isso é um dinheiro muito bem-vindo, porque permite uma atuação rápida, que não passa por problemas de logística - considerou.
O representante da ONU disse que o maior problema que se observa nessas crises é o posterior esquecimento. Lopes ressaltou que países como o Brasil podem mostrar que a solidariedade não é só nos primeiros dois meses, "quando as câmeras de televisão estão presentes", mas que deve ser algo a longo prazo.
- Os investimentos nos países atingidos têm que ser uma coisa também de combate à pobreza, que tenha uma durabilidade e uma sustentabilidade maior do que a ajuda de emergência. O Brasil pode contribuir, como fez no Timor Leste, com a presença de especialistas e envio de missões, que podem ajudar na reconstrução dos países, e na intervenção nos fóruns internacionais, para que o assunto se mantenha presente nas agendas de todo o mundo - destacou.
Outra questão que preocupa o representante da ONU é que as quantias que são anunciadas pelos países dificilmente são cumpridas.
- Na conferência em Jacarta, na Indonésia, foram oferecidos entre US$ 3 bilghões e US$ 4 bilhões, mas o problema das ofertas é que, por experiência internacional, aquilo que normalmente se anuncia, dificilmente acaba sendo dado. Por isso, há todo um cuidado em acreditar nos números.
Lopes lembrou que não apenas contribuições em dinheiro são aceitas.
- Por exemplo, nas Maldivas, praticamente todas as escolas foram destruídas. Dar dinheiro ou ajudar na reconstrução é a mesma coisa para a ONU - disse ele.
Segundo o representante da ONU, o maior déficit na Indonésia é de comida e água potável, sendo estimadas em mais de US$ 300 milhões as necessidades. Já o Sri Lanka, segundo país mais afetado, precisa mais de infra-estrutura do que de comida. De acordo com avaliação das Nações Unidas, o valor necessário para sanar os problemas é de US$ 280 milhões.
Solidariedade brasileira impressiona representante da ONU
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Sexta, 07 de Janeiro de 2005 às 14:13, por: CdB