O ministro de Exteriores sírio, Farouk Al Chara, viajou neste domingo de surpresa ao Cairo à procura do respaldo do Egito e da Liga Árabe depois que Israel acusou a Síria de apoiar o terrorismo e lhe ameaçou com represálias.
Horas depois de funcionários de seu ministério o terem feito em Damasco, Al Chara negou nesta capital que seu país estivesse por atrás do atentado de sexta-feira em Tel Aviv e aproveitou a ocasião para reiterar que as tropas sírias se retirarão em breve do Líbano.
Al Chara classificou como "precipitadas" as acusações do ministro da Defesa de Israel, Shaul Mofaz, à Síria pelo ataque suicida (que deixou quatro mortos e 50 feridos em uma discoteca) e indicou que o general judeu conhece os verdadeiros autores do atentado.
- A velocidade com que Mofaz acusou a Síria indica que sabe quem está por trás da operação. - disse Al Chara.
- Na minha opinião, os que organizaram a operação estão no interior de Israel, mas não quero acusar ninguém diretamente. - acrescentou.
As declarações do chefe da diplomacia síria são feitas depois que porta-vozes de seu ministério afirmaram ontem à noite em Damasco que a Síria não tem relação com o atentado em Tel Aviv.
As fontes disseram que a Jihad Islâmica (a organização extremista palestina que se responsabilizou pelo ataque) está com seus escritórios na capital síria fechados.
Apesar da reivindicação desse grupo, fontes da Autoridade Nacional Palestina (ANP) deram a entender que a autoria do atentado corresponde a "uma terceira parte" que identificaram com a guerrilha xiita libanesa Hisbolá, que opera com respaldo sírio.
Depois de acusar a Síria de estar por trás do ataque, Mofaz advertiu que seu país tem o direito de lançar operações de represália em território sírio.
O chefe da diplomacia síria também aproveitou sua estada no Cairo para assegurar ao presidente egípcio, Hosni Mubarak, e ao secretário-geral da Liga Árabe, Amro Mussa, que o regime de Damasco retirará em breve suas forças militares do Líbano.
Al Chara destacou que as tropas de seu país se retirarão por causa dos acordos de paz de Taef, que puseram fim em 1989 à guerra civil do Líbano, mas não pôs prazo para a retirada dos 14.000 soldados sírios mobilizados em solo libanês.
O governo de Damasco anunciou nesta semana essa retirada, exigida pela oposição libanesa e pela comunidade internacional depois que cresceram as acusações de que os serviços secretos organizaram o assassinato há dez dias em Beirute do ex-primeiro ministro Rafiq Hariri.
Tanto essas acusações como as feitas neste fim de semana por Israel que culpam também a Síria do atentado de Tel Aviv aumentaram em grande medida a pressão internacional sobre o governo de Damasco, que se dispõe a pedir o respaldo dos outros regimes árabes na cúpula que a Liga Árabe convocou para março, em Argel.