Os últimos agentes de inteligência sírios deixaram o Líbano nesta terça-feira, encerrando três décadas de envolvimento direto da Síria em seu pequeno vizinho.
Enquanto seus ônibus cruzavam a fronteira, muitos libaneses saudavam o término da retirada, que levou várias semanas, como o início de uma nova era. Mas apesar de a dominação de Damasco ser passado, muitos acreditam que sua influência sobre o Líbano está longe de haver terminado.
As forças sírias entraram no Líbano em 1976 para tentar encerrar a guerra civil que havia começado no ano anterior. Mas o conflito só terminou em 1990. As forças haviam combatido milícias muçulmanas e cristãs, unidades do Exército libanês, guerrilheiros palestinos e o Exército de Israel.
Membros pró-Síria do governo libanês dizem que 12 mil soldados sírios foram mortos no Líbano e que muitos mais foram feridos.
As forças sírias e seus agentes de inteligência dominavam o Líbano desde a guerra civil -- até que uma resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em setembro do ano passado exigiu uma retirada total da Síria.
O assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafik al-Hariri, em 14 de fevereiro, cuja responsabilidade é atribuída por muitos a Damasco, gerou grandes protestos da oposição anti-Síria em Beirute e aumentou a pressão sobre a Síria para deixar o país.
Analistas dizem que a retirada não acabará de uma vez com a influência.
- Definitivamente haverá uma redução de envolvimento da Síria em questões internas do Líbano. Eles não vão mais escolher altos-funcionários - afirmou Samir Baroudi, cientista político da American University em Beirute.
- Continuará havendo uma coordenação de alto-nível entre os dois países em questões como as relações econômicas bilaterais e o processo geral de paz no Oriente Médio - disse ele.
A oposição elogiou a retirada.
- Este é um dia histórico para o Líbano. Termina um longo período de erros e de hegemonia", disse a legisladora Nayla Mouawad.
- A retirada atende às demandas da oposição e abre o caminho para novas relações equilibradas com a Síria - ressaltou.
A ONU deve emitir ainda nesta terça-feira um relatório para dizer se a Síria cumpriu com as exigências do Conselho de Segurança.
Carros levando oficiais de inteligência, incluindo seu chefe, Rustum Ghazaleh, cruzaram a fronteira do Líbano com a Síria após uma cerimônia de despedida.
Oito ônibus verdes levando soldados sírios seguiram os carros. Os soldados, levando bandeiras sírias e fotos do presidente Bashar al-Assad, sorriam e acenavam.
Dezenas de altos oficiais libaneses e sírios participaram da cerimônia, em Riyyak. Bandeiras dos dois países tremulavam na base militar enquanto bandas tocavam músicas militares. Medalhas foram trocadas entre os oficiais sírios e libaneses.
O novo governo do Líbano, liderado pelo primeiro-ministro Najib Mikati, prometeu realizar eleições livres e justas em maio. O Parlamento iniciou nesta terça-feira um encontro de dois dias para discutir o programa político do novo governo e aprová-lo.