A semana começa agitada no Congresso, com o possível pedido de renúncia ou afastamento do presidente da Câmara, Severino Cavalcante, que negou neste domingo qualquer intenção de deixar o cargo. O volume de acusações de corrupção sobre ele, porém, deve aumentar ao longo da semana, com o depoimento de Sebastião Augusto Buni - dono de uma empresa de alimentação - à Polícia Federal. Em declarações à imprensa, neste fim de semana, o empresário acusa Severino de receber uma mesada de R$ 10 mil para manter o contrato de exploração do restaurante da Câmara. A imagem de Severino havia se desgastado ainda mais após a sugestão de que os deputados envolvidos no caso do mensalão recebessem punições mais leves.
O presidente da Câmara nega o ato criminoso e se diz vítima de uma tentativa de extorsão do empresário Sebastião Buni. A concessão para a administração do restaurante encerra-se este mês. Parlamentares da oposição ao governo, no entanto, não acreditam nas explicações de Severino e pediram que ele se afaste do cargo até que uma investigação conclua sobre o assunto. As opiniões tanto do líder do partido mais à direita, no caso o deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ), quanto de um representante da esquerda do PT, deputado Chico Alencar (RJ), são coincidentes quanto à renúncia de Severino.
- Vamos avaliar durante a semana se a resposta do presidente da Câmara foi suficiente. Mas, se tudo for confirmado nas investigações, é preciso que seja adotado o mesmo procedimento tomado contra os demais parlamentares acusados - disse o pefelista.
Maia, no entanto, disse ser precipitado encaminhar as acusações diretamente para o Conselho de Ética da Câmara. Ele considera mais prudente que as investigações iniciais sejam realizadas na Corregedoria da Casa. Embora também recomende "prudência" na condução das investigações, o colega baiano do pefelista de Rodrigo Maia, deputado Antônio Carlos Magalhães Neto é favorável à urgência na apuração dos fatos.
- É necessária uma apuração imediata e transparente de todas estas denúncias - disse, neste domingo, o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).
Para o deputado Chico Alencar, não há a menor condição de Severino permanecer à frente da Câmara dos Deputados, no momento em que se avalia a cassação de 18 parlamentares.
- A situação é mais grave do que parece. Trata-se de um dos poderes da República sob suspeição - afirmou.
O deputado federal José Janene (PP-PR), um dos acusados de receber o mensalão, porém, saiu em defesa do presidente da Câmara.
- O severino é um homem pobre, honesto. Existe uma campanha para desmoralizá-lo e, com isso, atingir o presidente Lula e o vice, José Alencar. A oposição já está articulada com o José Tomaz Nonô no lugar do Severino, para fazer uma eleição indireta e reassumir o poder - disse Janene.
Caso seja julgado no Conselho de Ética, Severino poderá perder o mandato por quebra de decoro parlamentar. Caso seja cassado, ou renuncie, a Câmara teria de convocar nova eleição após cinco sessões, mas se ele requerer uma licença temporária, seu substituto imediato seria o 1º vice-presidente, José Tomaz Nonô (PFL-AL). Internamente, Severino também pode ser investigado pelo corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), também do PP. Caberia a Nogueira fazer um relatório à Mesa sobre o caso, com a sua opinião.
Na esfera judicial, a iniciativa de investigar o presidente da Câmara compete exclusivamente ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, devido ao foro privilegiado dos deputados junto ao Supremo Tribunal Federal, mas ele prefere não se pronunciar ainda sobre o caso.
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