O valoroso pelotão de frente da imprensa nacional mostrou a que vieram os últimos avanços tecnológicos na área da informação. Por pouco, as câmeras das emissoras de tevê não filmaram o seqüestrador ensanguentado, com uma arma na mão e outra apontada para a cabeça do empresário e apresentador Silvio Santos. Ainda não conseguiram, mas se pudessem, desvendariam para os milhões de espectadores no mundo inteiro o cheiro de morte e adrenalina que paira no ar, normalmente, em circunstâncias semelhantes. Se os avanços da tecnologia ainda não permitem detalhes como estes, restou aproveitar o que se tem e entreter a audiência com toda a parafernália aérea e as entradas, ao vivo, da rua onde mora o apresentador e sua família, perseguidos há dias por este que a filha dele, Patrícia Abravanel, já havia perdoado por lhe ter mantido em cativeiro durante sete dias. É tragédia - ou apenas a silhueta dela - mas já vale mobilizar um contingente de aproximadamente 150 jornalistas para a cobertura. Duas destas, por semana, e estaria acabado o problema de público para as tevês brasileiras. Mas parece que já pegaram a fórmula. São pontos cruciais para uma mobilização desta envergadura, no mínimo, uma vítima famosa e um brasileiro desesperado, sabe-se lá com a mulher grávida e uma revolta sem tamanho pela miséria a que é submetido. Pronto. Não há caldo de cultura melhor para o enredo da tragédia do que o quadro desenhado pela própria Patricia Abravanel. Entre louvas a Deus, o Todo Misericordioso que lhe salvou e protegeu, críticas ao sistema de corrupção que vigora no Brasil e a fome do povo, a jovem publicitária montou a campanha perfeita para se desnudar, sem qualquer jargão de esquerda, a iniqüidade que assola o país. O último ato, ocorrido ao longo da manhã e início da tarde desta segunda-feira, foi a redenção do sistema sobre aquele marginal, no mesmo cenário onde um dia antes Silvio Santos e a filha sorriam para o batalhão de frente da imprensa, esmagado e esfolado para ver quem conseguia chegar mais perto da Abravanel da vez. A presença do governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, no local dos fatos - a mansão no Morumbi - selou o destino deste moço, de 22 anos, que liderou um seqüestro, matou dois policiais, feriu um e voltou a seqüestrar horas depois dos crimes praticados. Haja revolta. Haja prisão. Haja circo. Haja público. Gilberto de Souza é jornalista.
Seqüestro de Silvio Santos leva a frenesi de informações
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Quinta, 30 de Agosto de 2001 às 13:11, por: CdB