Segundo o senador Raldolfe Rodrigues (Rede-AP), “os trabalhos estão sendo usados por parlamentares que temem delações que os acusem de envolvimento nos negócios do grupo para tirar vantagens; desacreditar o Ministério Público Federal (MPF) e acabar com a Operação Lava Jato”.
Por Redação, com RBA - de Brasília
Na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS, criada para investigar os contratos do grupo JBS financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o ambiente esta semana é de crise. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) abandonou o colegiado da comissão com uma acusação que já vinha sendo feita nos bastidores das reuniões.
Renúncia
Segundo o senador Rodrigues, “os trabalhos estão sendo usados por parlamentares que temem delações que os acusem de envolvimento nos negócios do grupo para tirar vantagens; desacreditar o Ministério Público Federal (MPF) e acabar com a Operação Lava Jato”.
— Neste ambiente, os investigados viraram vítimas e os investigadores é que estão sendo investigados — reclamou.
O principal motivo que levou à renúncia de Randolfe como integrante da CPMI foi a convocação do procurador Eduardo Pelella, considerado braço direito do ex-procurador Geral da República Rodrigo Janot.
Investigados
Recentemente, o senador teve uma briga com o relator, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), por causa do rumo que, segundo ele, estavam tomando os trabalhos.
Rodrigues também ajuizou, em setembro, um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a suspensão da CPMI. Na peça jurídica, ele argumentou que o propósito velado da comissão é “travar uma disputa política da coalizão governista, fortemente abalada pelo conteúdo das colaborações e das evidências a elas anexadas, com o Sistema de Justiça".
O senador afirmou que quase metade dos requerimentos apresentados por deputados e senadores até agora são voltados para convite de integrantes do MPF e cita como exemplo disso seu desafeto, Marun, que chegou a declarar que “o objetivo da comissão é investigar quem nos investigou”.
Polêmica
Desde setembro, a divisão de interesses dos parlamentares que compõem a comissão tem suscitado reações diferentes. A primeira delas foi quando o relator apresentou seu plano de trabalho. No documento, Marun sugeriu, entre outros recursos, ajuda de especialistas externos e o uso de programas de computador para cruzamento de dados.
Na ocasião, muitos deputados e senadores acusaram a comissão de tentar ter uma atividade “chapa-branca”, com atuação mais política do que técnica. Um destes foi o senador Otto Alencar (PSDB-BA), que se retirou de uma das reuniões reclamando que a CPMI pretendia “atacar o MPF e proteger o governo de Michel Temer”. “Não vou contribuir com essa farsa”, destacou.
O presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), desconversou sobre o clima de divergências. Segundo ele, desde as primeiras críticas, tem atuado “para que os trabalhos não tenham o viés de transformar as investigações numa ação comandada pelo Palácio do Planalto para retaliar investigações”.
A CPMI prossegue com sua agenda de audiências públicas, convocações e reuniões a partir da próxima semana. Mas, antes disso, terá de dirimir o mais novo mal-estar entre o colegiado.