Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Sem acordo, ONU prepara votação de tratado sobre células-tronco

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Quinta, 11 de Novembro de 2004 às 20:14, por: CdB

Diplomatas disseram na quinta-feira que não houve acordo nas negociações da ONU sobre a tentativa norte-americana de proibir todo tipo de clonagem humana, inclusive para fins de pesquisas com células-tronco.

Por causa disso, a comissão da Assembléia Geral encarregada do assunto deve chegar profundamente dividida à votação da semana que vem a respeito da proposta, apresentada pelos Estados Unidos e pela Costa Rica.

Mas os diplomatas disseram que há cada vez menos apoio ao plano no Comitê Legal da Assembléia Geral, responsável pela redação de tratados, o que significa que ainda pode haver um acordo de última hora para evitar um racha.

Um grupo de países liderados pela Bélgica se opõe à adoção de um tratado da ONU que seja tão amplo a ponto de proibir a clonagem de embriões humanos para pesquisas com células-tronco ou similares -- a chamada clonagem terapêutica -, além de impedir a clonagem de seres humanos.

Esse grupo prefere que o comitê adote apenas uma declaração de princípios que deixe as decisões de política científica a cargo de cada governo.

Mas três semanas de negociações, iniciadas ainda antes das eleições norte-americanas do dia 2, nas quais a questão da pesquisa com células-tronco foi um dos grandes temas, não conseguiram levar a um acordo entre o grupo liderado pela Bélgica e o outro grupo rival, comandado por Estados Unidos e Costa Rica, segundo os diplomatas.

- As negociações continuam, mas muita gente parece resignada em votar. Parece que não há possibilidade de obter um acordo - disse um diplomata ligado às discussões, sob anonimato.

Na ausência de um acordo, a comissão marcou a votação para 19 de novembro, segundo o porta-voz da Assembléia Geral, Djibril Diallo.

A proposta de um tratado da ONU sobre clonagem está em andamento desde 2001. Embora em geral todos os países membros se oponham à clonagem de seres humanos, muitos deles defendem o uso de embriões humanos clonados nas pesquisas, que podem levar à cura de uma série de doenças que afetam milhões de pessoas, como o câncer, o mal de Alzheimer, a diabete e as lesões de coluna.

Mas os EUA e outros países querem a proibição total da clonagem, argumentando que mesmo o trabalho com embriões já representa a eliminação de vidas humanas.

O Comitê Legal decidiu no ano passado, por margem de apenas um voto, adiar a redação de qualquer tratado sobre a clonagem, concluindo que não seria sensato iniciar o trabalho sem que haja consenso internacional sobre os objetivos.

O governo Bush agora voltou a pressionar a Assembléia para que adote uma resolução instruindo os redatores dos tratados da ONU a redigir uma proposta que preveja a proibição total da clonagem.

Desde 2003, porém, vários blocos anunciaram sua oposição a uma nova votação caso a comissão permaneça dividia. Elas sugeriram que o grupo obtenha um acordo aceitável para todos ou rejeite a proposta dos EUA e da Costa Rica, adotando um novo adiamento.

Bernard Spiegel, advogado da Flórida que organiza um movimento mundial em prol da clonagem terapêutica, disse que é "totalmente errado condenar este tipo de pesquisa quando há tanta gente que a quer".

- Cientistas e pacientes em todo o mundo vão fazer um grande esforço na próxima semana para lutar por avanços na pesquisa com clonagem terapêutica - disse ele à Reuters.

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