Uma exigência de última hora das autoridades do setor elétrico argentino provocou um impasse no processo de licitação para a importação de 500 megawatts (MW) de energia elétrica do Brasil pelo Uruguai. O governo da Argentina exigiu que a operação, que utilizará o sistema de transmissão do país para fazer a eletricidade brasileira chegar ao Uruguai, inclua um agente argentino.
Após negociações, as pressões argentinas foram aceitas pelo governo uruguaio. A interferência dos argentinos, que desagradou profundamente a brasileiros e uruguaios, provocou um pequeno atraso no processo licitatório. A abertura das propostas de preços das candidatas do Brasil ao suprimento, que estava prevista para a última sexta-feira, estava agendada para esta quarta-feira a partir de 14h, na sede da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em São Paulo.
De acordo com agentes brasileiros que participam da disputa pelo suprimento aos uruguaios, a inclusão inesperada do agente argentino na transação deverá, além de ampliar os custos da operação, implicar a criação de um risco cambial para o negócio. Até então, o que estava acertado entre os países era o pagamento de uma taxa pelo uso do sistema de transmissão argentino.
- Com a intermediação de um agente argentino, a operação passa a ser triangular e as faturas, que seriam emitidas em reais, deverão ser emitidas em dólar - disse o executivo de uma empresa envolvida na operação.
O processo de licitação para a escolha de um fornecedor de energia do Brasil para o Uruguai foi iniciado no final de 2004 pela Administración Nacional de Usinas y Trasmisiones Eléctricas de Uruguay (UTE), órgão do governo uruguaio. Segundo informaram técnicos do setor elétrico brasileiro, a seca que se abate sobre o sul da América do Sul reduziu os níveis do reservatório do país vizinho. O Uruguai pretende firmar um contrato temporário de importação, que deverá vigorar entre janeiro e fevereiro desse ano.
O uso do sistema elétrico da Argentina para viabilizar a operação ocorre porque as interligações existentes entre os sistemas elétricos do Brasil e Uruguai têm uma capacidade de intercâmbio de energia limitada. Por isso, a UTE determinou que a entrega de energia fosse feita pela interconexão entre os sistemas elétricos do Brasil e da Argentina, com o transporte da eletricidade sendo realizado pelo sistema elétrico argentino até a hidrelétrica de Salto Grande, um projeto binacional argentino-uruguaio.