A administração Bush beneficia a causa do terrorismo islâmico pelo fato de não travar um diálogo sério com a comunidade internacional, declarou na terça-feira o escritor Salman Rushdie.
Conhecido por ter vivido durante anos sob a ameaça de morte depois de o aiatolá Ruhollah Khomeini ter decretado, em 1989, que seu romance "Os Versos Satânicos" era blasfemo, Rushdie disse que, a seu ver, o isolacionismo dos Estados Unidos levou não apenas seus inimigos a se voltarem contra os EUA, mas também seus aliados.
"Acho que o que favorece o terrorismo islâmico é ... a curiosa facilidade da administração atual em unir as pessoas contra ela", disse Rushdie em entrevista à Reuters.
O escritor disse que acha notável o fato de a "colossal solidariedade" que o mundo sentiu pelos EUA depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 ter sido desperdiçada tão rapidamente.
"Parece realmente notável que, assim que você sai dos EUA, encontra não apenas os inimigos naturais dos EUA, mas também seus aliados naturais falando em linguagem mais crítica do que eu jamais ouvi falarem dos Estados Unidos, em toda minha vida", disse Rushdie.
Nascido na Índia e criado na Grã-Bretanha, o escritor atribuiu a mudança no sentimento com relação aos Estados Unidos à "política unilateral" da administração Bush e a sua "pouca disposição em dialogar seriamente com o resto do mundo".
"Essa atitude de 'virar-se sozinho' provoca o repúdio das pessoas", disse ele, falando da política externa do presidente George W. Bush.
Salman Rushdie será um dos convidados da Festa Literária Internacional de Parati, entre 6 e 10 de julho.
Na condição de presidente da organização de escritores PEN American Center, Rushdie ajudou a organizar um festival literário internacional esta semana em Nova York, um evento que ele espera que irá restaurar o diálogo global.
"Parece ter ocorrido uma ruptura em nossa capacidade de ouvirmos uns aos outros", disse ele.
"Neste momento particular da história do mundo, é realmente importante que os americanos comuns tenham uma visão a mais ampla possível do pensamento do mundo."
O festival Vozes Mundiais PEN, que acontecerá entre 16 e 22 de abril, levará mais de 100 autores internacionais a Nova York para tomar parte em mais de 40 eventos, incluindo leituras e debates sobre temas que variam de política e literatura a erotismo.
É o primeiro encontro internacional organizado pela PEN desde 1986, quando o grupo era encabeçado por Norman Mailer.
Rushdie, que em março escreveu um editorial a diversos veículos pedindo menos religião na política, criticou Bush também por essa questão.
"Me preocupo quando o discurso religioso se torna a linguagem da política", disse ele. "Acho que isso vem acontecendo por aqui bem mais do que acontecia."
Rushdie disse que seu romance mais recente, "Shalimar the Clown", será lançado em setembro.
Sobre a trama do livro, em que um enviado dos EUA à Índia é assassinado depois de se aposentar, ele comentou: "Decidi assassinar um embaixador americano. O crime aparenta ser político, mas acaba revelando ser inteiramente pessoal."