Autoridades russas disseram, nesta sexta-feira, que o sucessor de Kofi Annan, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), deve vir da Ásia. A declaração joga água fria sobre as sugestões feitas pelos EUA de que o próximo dirigente da entidade poderia sair de qualquer lugar do mundo.
- Preferimos seguir a forma tradicional de lidar com a questão da eleição do novo secretário-geral - disse o embaixador russo junto à ONU, Andrei Denisov, acrescentando que chegou a vez de a Ásia ocupar a vaga.
Denisov também discordou da proposta do embaixador dos EUA junto à ONU, John Bolton, de que o processo de seleção seja concluído até a metade do ano, argumentando que isso tiraria poder de Annan, que completa dez anos no cargo no dia 31 de dezembro.
- Não achamos que o senhor Annan seja alguém que esteja pensando em se aposentar. Ele está ativo e trabalhando com eficiência. E ele precisa continuar assim até o final de seu mandato. Alguns itens da agenda de reforma (da ONU) foram adiados, como o da ampliação do Conselho de Segurança. Estamos com vários problemas e começar agora com as discussões sobre a sucessão do secretário-geral apenas complicaria ainda mais o processo de reforma - afirmou Denisov em uma entrevista coletiva.
Alguns enviados sugeriram que se poderia discutir o perfil do próximo candidato, mas Denisov afirmou que isso era desnecessário. Os últimos titulares do cargo ou ocupavam postos diplomáticos ou, no caso de Annan, pertenciam ao corpo de funcionários da entidade. A Carta da ONU prevê que o secretário-geral seja escolhido pela Assembléia Geral depois de ser apontado pelo Conselho de Segurança, o que significa que a Rússia, bem como os EUA, a Grã-Bretanha, a França e a China podem vetar qualquer nome.
No passado, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança esperaram até o último o momento para fazer uma escolha, pressionando os candidatos uns dos outros. Neste ano, Bolton afirmou que a ONU está "procurando por candidatos de qualquer parte do mundo, a fim de que tenhamos o campo mais amplo possível para escolher".
O embaixador dos EUA disse que pessoas vindas do Leste Europeu poderiam ocupar a vaga já que nenhum membro dessa região esteve no comando da ONU antes. Mas Denisov afirmou não ter ouvido nenhuma "proposta concreta" vinda do Leste Europeu. E acrescentou que os que "dão apoio à opção asiática teriam, provavelmente, o apoio de toda a Ásia". Entre os asiáticos que se mostraram interessados pelo cargo, estão Jayantha Dhanapala, assessor do presidente do Sri Lanka e ex-subsecretário da ONU para o desarmamento, Ban Ki-moon, ministro das Relações Exteriores da Coréia do Sul, e Surakiart Sathirathai, vice-primeiro-ministro da Tailândia.
O único asiático que ocupou o cargo até hoje foi U Thant, de Burma (hoje Mianmar), entre 1961 e 1971. Mas não há candidatos de países como a China, a Índia, o Paquistão ou o Japão, por uma série de motivos. Do Leste Europeu, os nomes mencionados mais frequentemente são os do ex-presidente polonês Aleksander Kwasniewski e da presidente da Letônia, Vaira Vike-Freiberga.
Annan, um diplomata de carreira da ONU vindo de Gana, recebeu o Prêmio Nobel da Paz e foi eleito com facilidade para um segundo mandato de cinco anos. Porém, depois do escândalo envolvendo o programa petróleo-por-comida, implantado no Iraque, e a disputa atual para reformar a ONU, Bolton disse que os EUA procuram por um administrador enérgico vindo de fora da entidade e que "possua experiência de gerenciamento".