A solicitação do Governo Federal à Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro (Seap) para que as cadeias cariocas revebam 300 detentos da da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), foi duramente criticada por especialistas na área de Segurança Pública. O PCC ordenou ataques a alvos civis e públicos em São Paulo nos últimos três meses.
Preocupados com possível unificação das facções que já atuam no Rio a partir do contato com homens do PCC, eles alertam para o risco de o crime organizado ganhar força.
- Trazê-los significaria acelerar processo como o fenômeno que vemos na Colômbia, com a unificação de cartéis - afirma o sociólogo Ib Teixeira.
- Tenho medo de o PCC ampliar sua rede de liderança - completa Cezar Honorato, cientista social.
A Seap fechou as portas do Rio para os detentos do PCC. O secretário Astério Pereira dos Santos garantiu que nenhum interno virá. Como o colunista Dacio Malta noticiou neste domingo com exclusividade, o pedido de transferência foi feito pelo diretor do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Maurício Kuehne, dia 19.
- Isolar cinco ou seis paulistas, como já fizemos no passado, é uma coisa. Outra é receber 300. Não podemos ajudar a construírem um PCC nacional - avalia Astério.
- Lamento não poder ajudar, mas não temos condições de receber nenhum preso. Nosso objetivo é criar vagas para 4,5 mil que estão nas delegacias e para outros que deixarão o Complexo Frei Caneca, que será desativado até o fim do ano - diz. A resposta da Seap já foi encaminhada ao Depen, órgão do Ministério da Justiça.
Recusar os paulistas também impede troca de informações com internos cariocas de facções como o Comando Vermelho (CV), Terceiro Comando e Amigos dos Amigos. No documento, Kuehne primeiro solicita 300 vagas, mas abre a possibilidade de o estado informar quantos presos poderiam ser recebidos.
O secretário esclarece que a recusa não está relacionada ao fato de o governo federal ter fechado os cofres para o sistema carcerário do Rio. Mas lembrou que nos últimos quatro anos recebeu apenas R$ 330 mil. Nesse período, o Rio tentou, através do Fundo Nacional Penitenciário, R$ 70 milhões para desativar a Frei Caneca e R$ 9 milhões para a construção de uma casa de custódia federal no Rio.
Conexão CV-PCC em cadeia
A conexão entre PCC e uma das principais facções cariocas, o CV, começou no fim da década de 90, quando Leomar de Oliveira Barbosa, o Leozinho, ficou em presídio paulista ao lado de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC. Leozinho era braço-direito de Luís Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, chefão do CV carioca.
A partir daí, a amizade entre Marcola e Beira-Mar se firmou e a ligação dos dois bandos se fortaleceu. Em 2002, a relação ficou mais estreita. Grandes articuladores do PCC - César Augusto Roris da Silva, o Cesinha, e José Márcio Felício, o Geleião - ficaram presos em Bangu com membros do CV. Intermediaram telefonema, interceptado pela polícia, entre Marcola e Beira-Mar, que também estava na penitenciária. Eles falaram sobre compra de armas ou drogas.
Como a reportagem mostrou dia 23, a aliança entre as duas facções também está presente na fronteira do Brasil com o Paraguai, onde foi montado esquema de envio de drogas para a Favela Beira-Mar, em Caxias, na Baixada Fluminense.