O solo A Rainha e o Lugar, da bailarina e coreógrafa Andrea Jabor, que comemora seus 15 anos de trabalho no Rio de Janeiro, estreia nesta sexta-feira no Espaço Sesc, em Copacabana, mesmo tempo em que desenvolve a pesquisa intitulada Arquitetura do Movimento, nome também de sua companhia de dança. A Rainha e o Lugar propõe pensar a importância do corpo como instrumento e símbolo de poder. Por isso, estabelece um diálogo através da relação da intérprete Andrea Jabor com vídeos, ambientes sonoros, vestimentas e objetos que evocam aspectos da condição de Rainha. A Rainha e o Lugar é um solo repleto de cabeças coroadas. Concebido por ela, em colaboração com Ana Achcar (direção cênica), Flávio Souza (figurinos e direção de arte) e Gustavo Gelmini (projeções e filmes), o espetáculo inclui em seu processo criativo a participação de 18 jovens dançarinos de comunidades que investigaram a questão da identidade num workshop de 20h de duração. Os celebrados 15 anos de trabalho também trazem para perto lembranças ternas, tanto da família, como da companhia. Tudo se materializa no foyer do Mezanino do Espaço Sesc. Estarão expostos vestidos, parte do acervo da mãe e da avó da artista que, cada uma a seu tempo, tiveram um quê de soberanas. Filha de pai diplomata, além de viajar meio mundo, Andrea sempre testemunhou os belos vestidos da mãe criados para recepções e solenidades. Já a avó, a saudosa Diva Jabor, apelidada de Rita Hayworth da Urca, será lembrada por uma túnica toda bordada e exuberante. Estará lá ainda o figurino do primeiro espetáculo da Cia., “De areia e mar”, realizado com o parceiro Ricky Seabra. “Um vestido longo preto da minha mãe tem especial valor. Foi com ele que dancei meu primeiro solo, ‘A última canção’, no Festival Panorama, em 1995, com a Sonata Para Piano nº 8 (Beethoven)”, recorda Andrea. A exposição se completa com objetos e escritos.
A Rainha e o Lugar concilia um tributo aos 450 anos do Rio de Janeiro a uma investigação sobre modos de construção da identidade, através da relação com os lugares que ocupamos, almejamos ou negamos. Em fotos e filmes, Andrea Jabor inclui paragens do Rio quase “invisíveis” a quem vive na cidade, como a Bica da Rainha, no Cosme Velho, ou a Praça Paris, na Glória. Em cena, ela dança com imagens e objetos numa trilha que inclui Beethoven, entre outros autores.
- Nos últimos espetáculos da companhia Arquitetura do Movimento investiguei as matrizes do samba carioca, fiquei sempre muito ocupada dirigindo e pesquisando. Agora quis que toda a investigação convergisse para este solo sob uma perspectiva totalmente nova na minha trajetória, de alguma forma coroando esta pesquisa que desenvolvo, esta metodologia de libertação da coreografia em que a improvisação ganha importância - situa Andrea Jabor, que entre 2008 e 2010 pesquisou as matrizes do samba numa trilogia coreográfica e lançou o DVD Oficinas de Dança – As matrizes do Samba Carioca resultado do co-habitar da dança contemporânea com o universo do samba carioca.
A Rainha e o Lugar fala da cidade e seus jovens, do lugar da infância na construção de identidade, da inteligência corporal da cultura popular, da poesia que pode existir em nossas perguntas e inquietações. Sobretudo, experimenta, nos mais diversos territórios e a partir de variadas perspectivas, o sentido da figura da Rainha. Foi assim pesquisando que conheceu o documentário “The Vanishing of the Bees (o desaparecimento das abelhas) dos cineastas George Langworthy e Maryam Henein que veio agregar ao espetáculo uma reflexão sobre o sumiço das colmeias que vem causando um colapso progressivo das colônias de abelhas em todo o mundo alterando toda uma cadeia fundamental para o equilíbrio da natureza. As abelhas, responsáveis por 75% da polinização no planeta, constituem uma sociedade feminina em que todas trabalham em prol das umas das outras e em favor dos seres humanos.
Ana Achcar (atriz, diretora e professora) e Andrea Jabor se conheceram em 1999, quando Andrea apresentou De Areia e Mar no Teatro Cacilda Becker, momento em que voltava a viver na cidade depois de muitos anos fora do Brasil. “A minha contribuição foi principalmente atuar nas conexões entre imagem, movimento e sentido durante o processo de criação do espetáculo”, destaca Ana Achcar. Já Gustavo Gelmini, especialista em filmes de dança, reflete: “Fiquei muito instigado em entender o que era essa Rainha em um país onde relações com reis e rainhas nunca foram motivo de orgulho, no entanto, a partir de nossas conversas fui entendendo esse lugar de realeza como merecimento.”
Uma das facetas do trabalho de Andrea Jabor é coordenar grandes grupos e ministrar oficinas para jovens por toda parte: Vidigal, Maré, Galpão Aplauso, entre muitos outros. Por isso, fez uma seleção de 18 jovens dançarinos para que eles pudessem alimentar e contribuir com o processo criativo do espetáculo. Eles participaram de um curso de 20h em que responderam com seus corpos e depoimentos sobre questões de identidade e de lugar, além de terem tido uma introdução à construção de uma coreografia e também como chegar a produzir um videodança. Juntos produziram materiais que fazem parte do espetáculo”.
A Rainha e o Lugar explora a cena multidisciplinar e constrói um universo que mistura arte e ciência, delicadeza e força, possibilidade e limite.
Fixa técnica:
Concepção e Coordenação geral: Andrea Jabor
Criação: Andrea Jabor, Ana Achcar, Flávio Souza, Gustavo Gelmini
Coreografia, trilha sonora e interpretação: Andrea Jabor
Direção Cenica: Ana Achcar
Direção de arte e Figurino: Flavio Souza
Filme ( projeções): Gustavo Gelmini
Assistente de coreografia: Letícia Ramos
Desenho de iluminação:Renato Machado
Programação visual: Daniel Whitaker
Fotografia: Rodrigo Castro
Produção Executiva: Alessandra Azevedo
Produção: Belas Estratégias Produções
Assessoria de Imprensa: Mônica Riani
Realização: FUNARTE, SESC,Arquitetura do Movimento
Este projeto foi contemplado com o Prêmio Funarte de dança Klauss Vianna/2013.
Serviço:
A Rainha e o Lugar - Solo de Andrea Jabor.
Criação: Andrea Jabor, Ana Achcar, Flávio Souza, Gustavo Gelmini.
Estreia nesta sexta-feira às 21h. Temporada de 6 a 29 de março.
De sexta a domingo. Sexta e sábado, às 21h e domingo às 20hs.
Local: Espaço Sesc - Mezanino – Rua Domingos Ferreira, 160. Copacabana – RJ. Estação Siqueira Campos do Metrô. Tel. 21 2547.0156. Lotação: 72 lugares.
Ingresso: R$ 20, R$ 10 e R$ 5 (associados do Sesc). Funcionamento da Bilheteria (inclusive vendas antecipadas): Ter. a dom., 15h às 21h.
Classificação etária: 12 anos. Duração: 60 minutos