Um incêndio causou na última segunda-feira danos consideráveis em uma residência nos arredores de Buenos Aires onde morou a escritora argentina Victoria Ocampo e que foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pelas Nações Unidas.
O acidente não deixou vítimas, mas 'danos irreparáveis em grande parte do casarão', de quatro andares e 1.821 metros quadrados, informou aos jornalistas um dos chefes das quatorze viaturas de bombeiros que combateram as chamas.
O incêndio se originou pouco depois das 20h no setor noroeste da mansão, construída em 1891 pelo pai da escritora.
Os bombeiros informaram que pela manhã, após apagar todos os focos, será iniciada uma investigação para determinar as causas do acidente e fazer uma exaustiva avaliação dos danos.
No entanto, informaram que o primeiro andar da casa, onde estava parte da biblioteca e da pinacoteca da família Ocampo, foi atingido pelas chamas.
O escritor e cineasta argentino Edgardo Cozarinsky, integrante de uma organização não-governamental, denunciou no ano passado que vários de livros que pertenceram a Victoria Ocampo (1891-1979), com dedicatórias de seus autores, foram roubados da mansão e estavam sendo oferecidos em leilão na internet.
O chalé, cercado de 11.200 metros quadrados de jardins, estava virtualmente abandonado e suas instalações bastante deterioradas, apesar de em 1979, pouco depois do falecimento de sua dona, a Organização das Nações para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) o ter declarado 'Patrimônio Cultural da Humanidade'.
Victoria Ocampo, poetisa e romancista, definida com acerto como 'a melhor ministra da Cultura da Argentina', fundou na década de 30 a revista 'Sur', pela qual desfilaram destacados literatos do país e do exterior.
O chalé, conhecido como 'Villa Ocampo', foi cenário de reuniões literárias onde participaram, entre outros destacados, Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares, Albert Camus, Roger Callois, Igor Stravinsky, A. W. Laurence e Rabindranath Tagore.
A mansão, que responde estilisticamente à arquitetura 'eclética' do final do século XIX, foi doada à Unesco para ser utilizada como centro de pesquisa e desenvolvimento de atividades culturais, um objetivo que se viu frustrado pelas disputas entre os herdeiros e as autoridades argentinas.
Residência em que morou a escritora Victoria Ocampo pega fogo
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Terça, 09 de Setembro de 2003 às 00:23, por: CdB