Rio de Janeiro, 11 de Março de 2025

Renúncia de Mesa deixa Bolívia em difícil situação

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Segunda, 07 de Março de 2005 às 02:57, por: CdB

Um ano e quatro meses depois da maior crise social e institucional de sua história democrática, Bolívia volta a se situar à beira do abismo com a renúncia do presidente Carlos Mesa, cujas conseqüências são praticamente imprevisíveis.

Surpreendendo a todos, o governante tornou pública sua determinação no final de um discurso à nação no qual acusou aos sindicatos e outros setores de impedir o desenvolvimento econômico nacional, necessário para sair de uma grave crise que arrasta o país; e de não deixá-lo governar em paz.

Apesar de gozar de uns primeiros meses de calma, a gestão de Mesa esteve marcada desde o começo pelas dificuldades próprias de um governo que nasceu como filho não desejado, acidentalmente, como a única saída possível a uma situação conjuntural e estrutural extremamente frágil.

Na qualidade de vice-presidente, Mesa sucedeu em 17 de outubro de 2003 seu amigo e colaborador Gonzalo Sánchez de Lozada, que renunciou ao não poder controlar uma onda de protestos nas ruas, reflexo do repúdio popular à forma de governar dos partidos tradicionais, desde o restabelecimento da democracia em 1982.

Um prestígio forjado em seu trabalho como mordaz comentarista televisivo e como historiador foi a única carta de apresentação do novo governante, que ao assumir a presidência tinha uma popularidade superior a 80%.

No entanto, esse respaldo popular e a tranqüilidade nas ruas, forçada pela rejeição à violência dos cidadãos, foram diminuindo de forma progressiva ao ver-se superado o governante por suas próprias promessas.

A primeira delas, um referendo sobre as reservas de gás do país, foi cumprida em julho de 2004, mas, apesar aos resultados favoráveis aos planos do governante, acabou transformando-se em uma faca de dois gumes por sua ambigüidade e pelas ânsias nacionalizadoras de alguns partidos, na hora de fazer uma nova lei petrolífera.

A posição sobre este ponto do Movimento Ao Socialismo, do líder cocaleiro Evo Morales, que em algum momento chegou a atuar como aliado do Mesa, foi um dos motivos apontados pelo governante para renunciar.

O segundo compromisso, a convocação de uma Assembléia Constituinte, topou desta vez com a posição do departamento de Santa Cruz, no oriente tropical, que antepôs a exigência de conseguir sua autonomia regional a esse plano de voltar a fundar o país.

O movimento autonomista, liderado por empresários, foi visto por alguns analistas como uma estratégia da antiga classe dominante, deslocada com a queda de Sánchez de Lozada, para evitar o processo constituinte e a conseqüente perda dos privilégios dos quais gozou historicamente.

Esses grupos são identificados com os partidos que têm voto no Congresso, a outra grande frente de batalha de Mesa, pois, por sua origem independente, carece de formação política e representação parlamentar.

Para batalhar com semelhantes empecilhos, o chefe do Estado boliviano teve que lançar mão de uma gama de recursos que se mostraram insuficientes para governar uma nação na qual 73% da população é pobre e 62% se declara indígena, quando os dirigentes sempre pertenceram à elite crioula.

Além de seu prestígio e fama de honradez, se valeu de um discurso didático para chegar aos setores menos poderosos com uma grande clareza expositiva e uma notável capacidade de síntese.

No entanto, essa virtude, que, segundo ele, foi reconhecida pelas "maiorias silenciosas", não foi acompanhada da habilidade política necessária para negociar com as "minorias radicais" que forçaram sua renúncia.

Segundo seus detratores, também não o favoreceu sua teimosia, que o levou a se chocar com outras autoridades, incluindo as Forças Armadas; nem seu convencimento de se acreditar sempre em posse da verdade, com a crença que sua capacidade de análise histórica era suficiente para governar uma nação.

Sua renúncia, que deverá ser ratificada pelo Congresso, afunda a Bolívia em uma grave incerteza, quase ma

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