Voltar às terras dos seus ancestrais. Este é um sonho que o sr. João Figueiredo Noleto acalenta desde que delas teve que sair faz vinte e quatro anos, por ordem da justiça. O juiz da comarca de Riachão, município do sul maranhense, acatou o pedido de um tal de Ivo que havia comprado a fazenda Sucurpira do senhor Nonato Fortes. Na única audiência, o sr. João apresentou documentos e testemunhas, provando que a sua família morava naquelas terras bem antes de alguém aparecer por lá se dizendo dono. De nada adiantou, pois ele e sua família foram obrigados a sair num prazo máximo de oito dias.
Sr.João mora e trabalha em Balsas desde então. Comprou um terreno de 60x10. Neste terreno, planta vinte e poucas espécies de espécies do cerrado e da Amazônia que sustenta a si e a sua família com frutas e essências medicinais. Suspenso por um fio, um litro de Inharé, um depurador de sangue, quase passaria desapercebido se não fosse o sr. João apresenta-lo. Ele apresentou todas as espécies que plantara, uma por uma: de manga são cinco espécies, da banana são sete e por aí foi, sem deixar de se entusiasmar em nenhum momento. Quem acreditaria que em plena seara do agronegócio florescessem estas espécies e que delas soltassem frutos, afinal o agro-extrativismo maranhense há muitos anos deixou que elas se perdessem? A razão talvez esteja no fato de que o mercado espera que os agricultores e extrativistas ofereçam frutas ao seu gosto e ao seu preço.
Esse terreno coberto e encoberto por várias espécies de manga, de banana, de laranja, por inúmeros pés de mogno, de inharés, de embu, cajuí, de buriti e buritirana torna-se um refresco de temperatura amena cercado de altas temperaturas e uma prova de resistência e desobediência aos propósitos do agronegócio sobre a cidade de Balsas e seus moradores. Quem planta alguma verdura, legume ou fruta para o seu consumo próprio se o supermercado tem o que as pessoas precisam? Sem saber a procedência, o consumidor leva para casa verduras, legumes e frutas contaminados por agrotóxicos. De fora, a família do sr. João leva para casa arroz, óleo, café e açúcar. O restante, já se sabe, está à mão.
Mesmo ocupado, o sr. João ia sempre à fazenda Sucupira. Em 1994, ela foi hipotecada e abandonada pelo seu dono que a alugou para um criador de gado. Na porteira, se via uma placa e escrito vende-se. Não demorou muito para entender que aquela fazenda de mais de 6.000 hectares tornara-se improdutiva. Dialogando com seus vizinhos reuniu um grupo de 104 famílias e em agosto de 2003 acamparam a margem da MA-140 entre Balsas e Batavo, próximo à fazenda Sucupira. Reivindicavam a desapropriação da fazenda para fins de reforma agrária.
Visitando o cartório de Riachão, foram informados de que a fazenda ia a leilão pelo Banco do Brasil. Entretanto, um certo sr. Airton Garcia Ferreira, empresário de Balsas, apresentou-se como proprietário da fazenda e denunciou à polícia militar e ao poder judiciário que as famílias penetraram em sua propriedade. Disse que o Ivo vendera para ele o título da terra o que, aparentemente, seria impossível afinal o Banco do Brasil a estava leiloando. Estranhamente, o Incra que realizou uma vistoria na área em outubro de 2003 não se interpôs entre o sr. Airton e a dita propriedade, como se esperaria, e por isso este pôde tomar posse da área como sua sem nem apresentar um documento. Omitir-se como agente do Estado é uma norma do Incra no que tange a áreas litigiosas situadas no cerrado sul-maranhense. Nessa brecha, Airton revendeu a propriedade para um paranaense chamado Guilherme Constanzo que em 19/06/2004 entrou com um pedido de licença no Ibama de São Luís para desmatar em 2005. A transferência foi um negócio feito no calado, assim como o desmatamento, antes que obtivessem a licença. Os acampados e o STR de Riachão denunciaram o desmate de 80 pés de babaçu em maio de 2004 e, segundo sr. João, nenhuma equipe do Ibama fora fiscalizar. Esta apareceu na fa