Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Racionamento de água volta com força total em São Paulo

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Terça, 14 de Outubro de 2014 às 07:56, por: CdB
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Elza não aguenta mais o racionamento secreto imposto pela Sabesp. 'A gente nem consegue se organizar'
Poucos dias após a reeleição do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), a misteriosa falta de água noturna voltou a assombrar a população das periferias da capital paulista. “Voltou ao 'normal'. Depois das 20h só sai ar das torneiras”, ironizou o sociólogo Gérson Brandão Júnior, morador do Jardim Romano (Zona Leste), que havia relatado o fim do racionamento secreto na sexta-feira, dois dias antes da eleição. No entanto, a medida agora se alastrou para a zona sul da cidade, onde a RBA ainda não tinha ouvido reclamações. - E agora, com esse calorão, o mais legal é saber que ao chegar em casa da faculdade, depois de um longo dia de trabalho, já tarde da noite, não haverá água para um banho refrescante - continua Brandão. Ele já tomou vários banhos de canequinha e tem um pequeno “exército” de garrafas pet cheias de água em casa para garantir as necessidades do dia a dia. A técnica continua a mesma relatada pela reportagem da RBA há um mês atrás: a partir das 19h a água começa a perder pressão e se esgota nas torneiras. Quem não tem caixa d'água – ou tem uma família numerosa e um reservatório pequeno – tem de estocar o líquido em garrafas pet, galões e baldes. O fornecimento só vai ser regularizado na manhã seguinte. Na Cidade Tiradentes, zona leste, a auxiliar de limpeza Ana Cristina Ramos sofre com o mesmo problema, que foi interrompido às vésperas da eleição e voltou com força no último dia 6 de outubro. “Todo mundo estranhou ter água no dia (da eleição). Mas agora, a água acaba sempre a partir das 20h e só volta as 6h da manhã do dia seguinte”, descreveu. Até regiões que ainda não tinham registro do problema estão começando a senti-lo. É o caso do bairro Recanto Campo Belo, no distrito de Parelheiros, no extremo sul da cidade, onde o historiador Magno Duarte contou que desde a última quarta-feira a água não chega direito na casa dele. “Não chega água até a madrugada. O que vem, deve estar ficando nos bairros mais baixos, porque quase não chega aqui”, afirmou. Para matar a sede, tomar banho e cozinhar, a família está guardando água em um tonel de 150 litros e onde mais for possível. “O que me deixa mais irritado é perceber que foi exatamente com o fim da eleição que se escancarou o estado crítico. E que 'seguraram' o racionamento até o limite para garantir os votos”, indignou-se Duarte. No Jardim Eliana, no Grajaú, zona sul, o músico Leandro Bastos de Andrade também percebeu que a água está sumindo durante a noite. “Depois da meia-noite tem faltado água todos os dias. Faltou antes e falta agora, depois da eleição”, explicou. As duas regiões da zona sul são abastecidas pelo Sistema Guarapiranga e não pelo Cantareira, onde a crise hídrica foi oficializada em 20 de janeiro deste ano. Os bairros no extremo da zona leste são abastecidos pelo Alto Tietê. O motivo para a “migração” da falta de água pode ser utilização da água dos outros mananciais para suprir parte da demanda do Cantareira, que abastecia cerca de oito milhões de pessoas normalmente e agora supre 6,5 milhões. A Sabesp está bombeando a água do chamado volume morto, que fica abaixo do nível das comportas de captação por gravidade, do Cantareira desde maio. O volume foi dividido em duas cotas e a primeira deve se esgotar no fim deste mês. A companhia já solicitou autorização para a Agência Nacional de Águas (ANA) para utilizar a segunda cota. No entanto, o presidente da agência, Vicente Andreu, ironizou a proposta afirmando: "É mais fácil o meu Palmeiras chegar em primeiro no Campeonato Brasileiro do que o plano funcionar. Não tem nenhum amparo técnico na realidade”. Na última sexta-feira, a Justiça Federal em São Paulo proibiu a utilização da segunda cota e mandou a Sabesp reduzir o volume de água bombeado. O juiz Miguel Florestano Neto, da 3ª Vara Federal em Piracicaba, acolheu os argumentos dos Ministérios Públicos estadual e federal de que a companhia está fazendo uma gestão muito arriscada do sistema e que a utilização de tal volume coloca em risco o abastecimento das cidades na região de Campinas e Piracicaba. O magistrado também ressaltou, apoiado nos argumentos dos MPs, que a Sabesp e os órgãos reguladores, ANA e Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee, estadual), tinham conhecimento da crise que se aproximava desde 2011, mas nada fizeram para evitar os problemas. Na mesma sexta-feira a Sabesp apresentou um plano de contingência para a ANA, em que propõe a redução na vazão dos atuais 19,7 metros cúbicos por segundo (m³/s) para 19 m³/s assim que o plano for aprovado, e para 18,5 m³/s a partir de novembro. No início do ano, a Sabesp retirava 31 m³/s.  
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