Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Protocolo de Cartagena: a hora da decisão

Arquivado em:
Domingo, 25 de Dezembro de 2005 às 23:08, por: CdB

A 3ª reunião dos países membros do Protocolo de Cartagena, que se realizará em março do próximo ano em Curitiba, está cercada de expectativas, e o pivô de tanto suspense é a posição brasileira. Até junho deste ano, em Montreal, quando ocorreu a 2ª reunião dos países membros do Protocolo, o Brasil ainda era visto como um dos países do 3º Mundo que batalharam ao longo dos últimos 11 anos para que a transferência, a manipulação e a utilização seguras de transgênicos pudesse ser feita sem trazer danos ao meio ambiente e à saúde pública.

Esses países do 3º Mundo, particularmente aqueles megadiversos como o Brasil, temiam com razão que o transporte de transgênicos entre países acabasse levando à disseminação e contaminação dos nossos ecossistemas com organismos geneticamente modificados, os quais poderiam trazer danos ao meio ambiente e à saúde pública. Foi por reconhecer esses perigos que a Convenção sobre a Diversidade Biológica, convenção assinada durante a Eco-92, começou a negociar ainda em 1994 um protocolo de biossegurança, que seis anos depois, em janeiro de 2000, em Montreal, seria aprovado e passaria a ser conhecido como o Protocolo de Cartagena.

As negociações foram muito penosas devido principalmente à resistência do chamado "Grupo de Miami", que incluía os maiores países exportadores de transgênicos, como os EUA e a Argentina. Esses países se opunham ao principal mecanismo de funcionamento do Protocolo que era o "consentimento prévio informado", ou seja, o direito de países importadores a só receberem transgênicos em seu território caso manifestassem seu consentimento, e após serem plenamente informados da intenção dos eventuais exportadores.

Já esses últimos defendiam que bastava que toda a informação a respeito de transgênicos - cultivados, comercializados e beneficiados - constasse de um banco de dados internacional, e os países importadores é que buscassem descobrir o que poderia estar vindo dentro de contâiners. Mas, como se tratava de um grupo de apenas seis países, eles tiveram que se dobrar à pressão da comunidade internacional há cinco anos atrás, em Montreal, e aceitaram assinar o texto final, não sem antes forçarem o outro lado a ceder em alguns pontos. O mais importante deles era o dispositivo que se referia aos requisitos para a manipulação, embalagem e identificação de transgênicos.

No texto original havia a exigência de que cada carga de transgênicos exportada contivesse uma clara identificação do tipo de organismo vivo modificado ali contido, explicitando o gene ou genes introduzidos, as empresas responsáveis e outras informações pertinentes. Porém, para obter o apoio do Grupo de Miami, todos os demais países aceitaram estabelecer um prazo de até dois anos após a entrada em vigor do Protocolo de Cartagena, quando então se adotariam critérios claros para a identificação de transgênicos exportados. Até lá, bastaria aos países exportadores de transgênicos rotular as suas cargas com os dizeres: "pode conter transgênicos".

Mas, o tempo passou, o Protocolo de Cartagena entrou em vigor, e em junho deste ano, em Montreal, esgotava-se o prazo dado aos seus países membros para que tomassem uma decisão sobre os requisitos pormenorizados para a manipulação, transporte, embalagem e identificação de transgênicos. E foi aí que o Brasil surpreendeu a todos, ao declarar que era "muito cedo e seria precipitado" ter que decidir-se sobre como identificar cargas de transgênicos. Junto com a Nova Zelândia - pois o grupo de Miami havia se desfeito já há muito tempo- o Brasil se recusou a apoiar uma proposta de consenso, fazendo com que fracassem as negociações de cinco anos!

A intolerância e a má fé brasileiras provocaram protestos de todas as partes, desde a Organização da União Africana, até a União Européia, sem falar no repúdio de ONGs e movimentos sociais de todo o mundo. Mas não sabemos se isso terá sido suficiente para demover o governo brasileiro de sua posição pró "li

Tags:
Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo