"O português, embora seja falado por 220 milhões de pessoas, é um 'gueto' lingüístico", afirmou o presidente da Academia Brasileira de Letras, Ivan Junqueira.
Em uma entrevista em Buenos Aires, onde participa da celebração do Dia do Brasil na Feira do Livro da cidade, Junqueira disse achar que a situação da língua portuguesa mudaria se brasileiros e portugueses deixassem de lado preconceitos derivados de suas respectivas condições de "colonizados" e "colonizadores".
O poeta e crítico carioca representará a literatura brasileira junto com os também escritores Lygia Fagundes Telles e Moacyr Scliar, num ato programado para hoje na Feira do Livro de Buenos Aires, que está perto do fim e a ponto de bater um novo recorde de público.
O objetivo da apresentação dos escritores é expressar o interesse do Brasil em difundir sua literatura em países hispanoparlantes, sobretudo na Argentina, e, ao mesmo tempo, facilitar o acesso do Brasil à produção literária em espanhol .
"Ninguém sabe o que se escreve em português. Apesar de termos grandes escritores, eles não são conhecidos fora do Brasil", lamentou Junqueira, que destacou que não ocorre o mesmo com os escritores de Portugal, que são reconhecidos na Europa.
A Academia Brasileira de Letras participa, junto com a Fundação Centro de Estudos Brasileiros de Buenos Aires, de um projeto para traduzir e editar na Argentina obras dos maiores escritores de língua portuguesa deste lado do Atlântico, como Machado de Assis e João Guimarães Rosa.
Dos 220 milhões de lusoparlantes que há no mundo, 170 milhões estão no Brasil, destacou Junqueira.
O poeta carioca acha que a falta de projeção exterior da literatura brasileira se deve a razões econômicas, ao fato de o Brasil "não ser um país de ponta" e também a um aspecto da relação entre seu país e Portugal, que, segundo ele, não foram capazes de se colocarem de acordo para dar certa uniformidade ao idioma comum.
Junqueira atribuiu a maior parte da culpa ao "colonialismo"
"Os portugueses não aceitam que seu idioma tenha mudado no Brasil, que tenha se vocalizado e que seja muito mais suave e muito mais emocional", ressaltou.
No entanto, ele reconheceu que os brasileiros também são culpados e mencionou o fato de os dois países não terem sequer alcançado um acordo sobre a grafia do idioma português, apesar de terem começado a discutir o tema em 1945.
"É necessário um acordo", ressaltou Junqueira, que em julho visitará a região espanhola da Galícia para assistir à apresentação de uma completa antologia da poesia brasileira.