O premiê pró-Síria do Líbano deixou o cargo na quarta-feira, abandonando os esforços para formar um governo que levasse o país até as eleições gerais. Ele afirmou acreditar, no entanto, que ainda há tempo para que o pleito seja realizado em maio.
O primeiro-ministro Omar al-Karami disse que chegou a um beco sem saída tentando formar um gabinete. Há forte pressão da ONU e dos Estados Unidos para que as eleições ocorram no prazo previsto. "De novo estamos num beco sem saída", disse Karami a repórteres. "É por isso que os convidei hoje para apresentar minha renúncia."
Uma autoridade disse que o presidente Emile Lahoud aceitou a renúncia e deve buscar um novo premiê. Fontes políticas dizem que as eleições podem sofrer um atraso de semanas com a demora na formação do governo.
A oposição libanesa acusa o governo pró-Síria de manobrar para adiar o pleito. Os opositores pretendem capitalizar no pleito a indignação popular com o governo que se seguiu ao assassinato do ex-premiê Rafik al-Harari, em fevereiro.
O parlamentar Nasib Lahoud, influente político cristão de oposição, disse antes da renúncia de Karami que a oposição pode convocar protestos contra as atitudes deliberadas para retardar as eleições. "Podemos voltar às ruas para obrigá-los a ir em frente", afirmou.
Muitos libaneses culpam a Síria e o governo libanês pró-Síria pelo assassinato de Hariri. Depois da morte, uma série de protestos forçou Karami a renunciar, mas ele acabou voltando ao cargo pela incapacidade de se encontrar um novo premiê. Quando voltou, tentou formar um governo de unidade, mas a oposição se recusou a se juntar aos pró-Síria. Desde então, vinha buscando um governo pró-Síria.
O presidente Lahoud, também aliado da Síria, precisa consultar o Parlamento para indicar um novo premiê.
O mandato de quatro anos do Parlamento se encerra em 31 de maio. A Constituição exige que as eleições sejam convocadas pelo governo com pelo menos um mês de antecedência. Se o pleito não ocorrer em maio, o Parlamento, hoje dominado por políticos pró-Síria, pode estender seu mandato por vários meses, para evitar que haja um vácuo político.
O novo gabinete precisa elaborar a lei eleitoral e fiscalizar a eleição, mas acredita-se que o processo leve várias semanas.
Enquanto isso, a Síria continua retirando suas tropas. A pressão internacional que se seguiu ao assassinato de Hariri a obrigou a prometer encerrar a presença militar de mais de 25 anos no Líbano até o fim de abril. De terça para quarta, a inteligência síria desocupou um escritório na cidade de Zahle, no vale do Bekaa, e 30 tanques sírios cruzaram a fronteira de volta a seu país, disseram testemunhas.