Na contramão dos críticos, Grazziotin acredita que a pré-candidatura de Manuela D’Àvila não seja um fator de divisão entre PCdoB, PT e das forças de esquerda.
Por Redação - de Porto Alegre e São Paulo
O lançamento da pré-candidatura da deputada estadual Manuela D’Ávila, na noite passada gerou, nesta segunda-feira, uma tremenda ressaca nas direções nacionais do PCdoB e do PT. Não faltaram elogios, em ambas as legendas, à iniciativa; mas sobraram críticas, nas redes sociais. Entre aqueles que aplaudem está a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).
— Temos plena convicção de que nossa pré-candidatura contribuirá muito para o debate nacional, com a luta democrática, de denúncia do golpe e defesa dos trabalhadores, que agregará jovens, mulheres e trabalhadores de todos os cantos desse imenso Brasil — elogiou a senadora.
Projeto soberano
Na contramão dos críticos, Grazziotin acredita que a pré-candidatura de Manuela D’Àvila não seja um fator de divisão das forças de esquerda.
— Ao contrário. Sinalizamos que, além de propostas concretas, também temos nomes que podem contribuir significativamente com a busca da unidade, tão necessária nesses tempos de subtração da democracia, de direitos de nossa gente e de ataques profundos à nossa soberania — pontuou.
Para a senadora comunista, com o lançamento da pré-candidatura de Manuela D’Ávila, o PCdoB não estaria abandonando a luta e a defesa de Lula. Ainda mais o seu direito de se candidatar a presidente da República. Ela reforça a ideia de que seu partido estará ao lado do PT, do PDT, do PSB. De todos os partidos e democratas dispostos a lutar por um projeto soberano; de desenvolvimento nacional e de inclusão social.
Zona de conforto
Na mesma linha segue o jornalista Breno Altman, editor da revista Samuel e do site Opera Mundi. Militante de peso no PT, Altman torce para que D’Ávila tenha sucesso. Trata-se de “uma das figuras mais interessantes de sua geração”, escreveu em uma rede social.
“De repente, desse processo irá surgir a melhor fórmula possível para a disputa presidencial, com a gaúcha como vice de Lula. Mulher, jovem, combativa, inteligente, sulista: não seria esse um bom caminho?”, questiona.
Ainda segundo Altman, a coesão do campo das esquerdas precisa ser ampliada.
“Claro que precisamos preservar a unidade do campo progressista para defender o direito do ex-presidente disputar as eleições de 2018; mas não há motivos de desconfiança sobre qual será o comportamento do PC do B a esse respeito. No mais, desde que o partido de Manuela seja um fator de pressão pela esquerda, mal não fará ao petismo ter que sair de sua zona de conforto; fazer um debate programático denso e enterrar eventuais desvios hegemonistas no campo popular”, acrescentou.
Pacto estratégico
E segue adiante, com um lembrete do passado: “Um breve exemplo histórico, a título de ilustração. O PC chileno, em 1970, lançou a candidatura de Pablo Neruda a presidente, quando o normal seria apoio imediato a Salvador Allende. A forte repercussão de seu nome acabou sendo decisiva para a formação da Unidade Popular; como uma aliança orgânica e vertical. Tivessem os comunistas defendido o heroico presidente desde o princípio, talvez o resultado fosse um mero acordo eleitoral, frouxo e instável, e eventualmente incapaz de levar a esquerda ao governo”.
“O fato é que o PT, tendo que lidar com as alternativas Boulos e Manuela, está desafiado a colocar definitivamente, no centro de sua política, a construção de uma frente popular estável e programática; capaz de abrigar um pacto estratégico do conjunto da esquerda e dos movimentos populares”, afirma.
Lançamento
A disposição de seguir no apoio a Lula, para não ser acusada, no futuro, de divisionista, levou a presidente do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE), a reforçar sua lealdade ao PT. Santos garante que a pré-candidatura de D’Ávila não significa uma divisão entre os partidos. E que a decisão foi tomada diante “da instabilidade política do país”.
— Não há um partido mais defensor do PT do que o PCdoB. Queremos nos apresentar com mais força para ajudar o conjunto do nosso campo político retomar a Presidência da República — disse, em seu discurso na festa de lançamento do nome de Manuela D’Ávila.
Para o segmento que pensa o contrário, no entanto, a garantia de Luciana Santos não foi suficiente. Para o publicitário Guilherme Coutinho, editor do blog Nitroglicerina Política, copiado em outras páginas, na internet, ligadas ao PT, o grito de independência dos comunistas foi entendido como um deslize perigoso. No artigo, intitulado “Dividir para conquistar: A bola fora do PCdoB”, Coutinho não poupa críticas.
Unidade mínima
“O Partido Comunista desde a redemocratização nunca teve uma vocação divisionista. Sempre apoiou o partido da esquerda que tinha maior chance de vencer as eleições e assim impor uma agenda com foco nas classes menos favorecidas. A própria Manuela D'Avila é um excelente nome, mas não para esse cargo e jamais para esse momento de crescimento desenfreado do fascismo”, prevê.
Ainda segundo o publicitário, “a segregação agora é perigosíssima. A esquerda francesa se dividiu nas últimas eleições e ficou fora do segundo turno, mesmo tendo muitos votos pulverizados nos 3 partidos progressistas. Vimos então a direita (Macron) e a extrema-direita (Le Pen) disputarem o comando da nação”.
“O momento político que vivemos não pode passar por vaidades ou interesses menores. Deveria haver uma unidade em torno do candidato que mais tem chance de vencer as eleições: Lula. Já existem candidatos suficientes para ‘marcar posição;. Quanto mais dividida a esquerda, mais fácil ficará o caminho para os candidatos da extrema-direita; que crescem vertiginosamente nas pesquisas. Com candidatos de PT, PDT, PSOL e PC do B (além da REDE), o lado progressista fica enfraquecido. Por uma questão de patriotismo deveria haver uma unidade mínima. Como diz outra frase atribuída a Júlio César, Alea jacta est”, conclui.