Mais de 8 milhões de portugueses escolhem neste domingo o novo presidente do país, em uma eleição que pode ser decidida já no primeiro turno. As mais recentes pesquisas de intenção de voto apontam como favorito para vencer o pleito o candidato de centro-direita, Aníbal Antônio Cavaco Silva, que aparece com mais de 50% das intenções de voto. Os dois candidatos que podem forçar um segundo turno vêm do Partido Socialista: o ex-presidente Mário Soares e o deputado Manuel Alegre, que concorre como independente. Também concorrem à sucessão do socialista Jorge Sampaio outros três candidatos: Jerônimo de Sousa, secretário-geral do Partido Comunista, o deputado Francisco Louçã, do Bloco de Esquerda, e Antônio Garcia Pereira, do Movimento Revolucionário do Povo Português.
Apesar do favoritismo, Cavaco Silva procurou nos últimos dias, pelo menos no discurso, não entrar no clima do "já ganhou".
- Eu estou a enfrentar quatro candidatos. É uma coisa que nunca aconteceu em Portugal e por isso há sempre alguma incerteza quanto ao resultado que pode acontecer - disse ele.
O analista político Francisco Saarsfield Cabral, diretor da Rádio Renascença, diz que, apesar dos números das sondagens, pode haver uma surpresa.
- É provável que muitos dos indecisos sejam de esquerda e estejam hesitantes entre votar Mário Soares ou Manuel Alegre. A vitória no primeiro turno é provável, mas não é certa - afirma ele.
Nas quatro sondagens publicadas na sexta-feira, o número de indecisos varia entre 10% e 23%. A maior parte das sondagens coloca em segundo lugar o deputado Manuel Alegre, com 16% a 19% das intenções de voto. Ele é poeta e, depois de ter sido rejeitado como candidato do partido, decidiu fazer uma campanha independente com o apoio de intelectuais, artistas e pessoas descontentes com o governo socialista, que vem aplicando uma receita ortodoxa para a crise econômica portuguesa. Apenas uma das pesquisas de sexta coloca Mário Soares na vice-liderança. Aos 81 anos, ele concorre pela terceira vez à Presidência. Apoiado pela máquina do Partido Socialista, a esperança é que repita o feito de 1985, quando no primeiro turno ficou com 25,3% dos votos contra 46,4% do candidato de centro-direita Diogo Freitas do Amaral, mas acabou vencendo o segundo turno por apenas 200 mil votos.
O centro da campanha tem sido a situação econômica. Cavaco Silva procurou dizer que a sua eleição será o caminho para o fim da crise.
- Penso que os portugueses estão conscientes de que o país atravessa uma fase difícil e que o presidente pode marcar uma virada, e é por isso que estou aqui - disse ele.
Acusado pelos adversários de entrar numa área que é de responsabilidade do governo - hoje encabeçado pelo socialista José Sócrates -, Cavaco Silva, que foi primeiro-ministro de 1985 a 1995, disse que o voto direto dá ao presidente legitimidade para influir na política. O analista político Carlos Magno acredita que a eleição de Cavaco poderá ser uma mudança na forma como o presidente se relaciona com o governo socialista.
- Ele não tem um programa presidencial, mas um programa de governo. O eleitorado que vota Cavaco Silva quer que as coisas mudem, quer que o presidente controle o governo, estabeleça metas e objetivos para o governo cumprir.
Em relação ao Brasil, Cavaco Silva promete trabalhar para melhorar as relações entre os dois países.
- O Brasil será uma grande potência econômica e política, e Portugal só tem a ganhar com o aprofundamento das relações.