Fala-se muito em globalização. Para muitos, globalização significa algo criado pacientemente pelo grupo dos 8 países mais desenvolvidos do mundo (aí incluída a Rússia) e, apressadamente, implementada pelos mesmos. Já para outros a globalização é boa enquanto meio de se manter o status quo: nações ricas continuarão mais ricas e nações pobres se dirigindo ao estágio de miséria absoluta. Mas, penso que a globalização tem um outro desafio. O de globalizar utopias, valores humanos, coisas como solidariedade e senso de humanidade. É bem equivocada a idéia de nos contentarmos com uma globalização meramente econômica, financeira, onde o capital, esse pária sem alma e sem pátria, possa ditar os fundamentos da ordem mundial que tanto ansiamos por construir.
Especialistas e pessoas de bom senso e todos os que estudam as causas da pobreza estão cansadas de saber que investimentos em educação pública de qualidade, desempenham um papel essencial no combate a esse mal. Podemos ver os casos de países como a Coréia do Sul, que atacaram vigorosamente nessa área, com resultados extremamente positivos. Infelizmente, no caso do Brasil, nada nos autoriza a pensar que ações nesse sentido serão efetuadas no curto prazo.
Outras soluções passam pela admissão de um maior contingente de imigrantes de nações pobres nos países desenvolvidos e o fim dos subsídios agrícolas. Lamentavelmente, medidas como essas têm sido sistematicamente repudiadas pelas nações ricas e dificilmente serão postas em prática. Quando entenderemos que somos um planeta, um só povo? Que tudo está profundamente interligado, que o que afeta um país termina afetando os demais?
Por outro lado, sabemos que a verdadeira globalização não deve tratar apenas de criar megacorporações financeiras, de facilitar o livre tráfego de produtos, bens e serviços. Antes, o mundo precisa de uma globalização com rosto humano, onde o cidadão e a cidadã sejam o centro das atenções. Afinal, de que adianta termos todos os produtos à venda se não existe poder aquisitivo para comprá-los?
Falar que a globalização iria gerar mais empregos, mais segurança e estabilidade parecera ser um lugar comum. Isso não ocorreu. O trabalho autônomo, casual ou residencial, juntamente com os empregos de meio expediente e temporários, respondem por uma parcela entre 50% e 80% do trabalho urbano nos países em desenvolvimento. Esta percentagem é ainda mais alta se incluirmos o setor agrícola. Nos países desenvolvidos esses trabalhos informais respondem por 20% ou 30% do número total de empregos. O fato é que, em vez de o trabalho informal se tornar formal à medida que as economias crescem, o trabalho está passando de regulamentado a desregulamentado. Com isso os trabalhadores perdem a segurança empregatícia, assim como benefícios médicos e outras vantagens. Essa tendência é particularmente pronunciada para as mulheres, que tendem a ter uma representação excessiva no mercado de trabalho informal. Em praticamente todos os países, as mulheres ainda são as principais responsáveis pela criação das crianças, e pelos cuidados dispensados aos doentes e aos idosos, o que lhes limita a capacidade de obterem a educação e a experiência exigidas para que consigam empregos mais bem pagos.
Globalizem-se os sonhos e também as percepções de que a diversidade humana, longe de nos empobrecer, constitui as bases para o enriquecimento de nosso patrimônio humano, que, antes de tudo, é universal. A verdadeira globalização haverá de nascer da compreensão sólida de que somos cidadãos de um mesmo mundo, de uma mesma pátria comum, de uma única humanidade. Repensar os efeitos nocivos da globalização hoje em dia é algo inadiável. Uma questão de direito... planetário!
Washington Araújo é jornalista