Rio de Janeiro, 20 de Janeiro de 2025

Polícia ouve parentes de Paulo Malhães sobre morte de torturador

Arquivado em:
Segunda, 28 de Abril de 2014 às 09:14, por: CdB
paulomalhesmorte.jpg
Além disso, a polícia busca imagens de câmeras de segurança da região para serem analisadas
Parentes do coronel reformado Paulo Malhães, assassinado na última quinta-feira em seu sítio em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foram ouvidos nesta segunda-feira por investigadores da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). Um dia antes, um dos filhos do coronel foi ouvido na delegacia. Além disso, a polícia busca imagens de câmeras de segurança da região para serem analisadas. A Polícia Civil irá confeccionar o retrato falado dos homens suspeitos de invadirem a propriedade, com base nos depoimentos da viúva do coronel e do caseiro do sítio do casal. A informação foi divulgada pelo delegado adjunto da Divisão de Homicídios da Baixada, William Pena Júnior, após equipe da unidade realizar uma perícia complementar no local. De acordo com o depoimento prestado pela viúva Cristina Batista Malhães à polícia, pelo menos três homens, um deles com o rosto coberto, invadiram o sítio na tarde da última quinta-feira. Ela afirmou que a invasão ocorreu por volta das 13h e que até as 22h ela e o caseiro foram mantidos reféns em cômodos separados. Os criminosos fugiram levando armas que o oficial colecionava e dois computadores. O coronel foi encontrado morto depois que os invasores deixaram a propriedade. O delegado William Pena Júnior destacou que a principal linha de investigação é de latrocínio (roubo seguido de morte). Porém, destacou que não são descartadas as hipóteses de vingança e queima de arquivo apontadas na sexta-feira  pelo delegado adjunto Fabio Salvaretti, também da Divisão de Homicídios (DH) da Baixada Fluminense. Segundo o delegado William Pena Júnior, a polícia desconhece informações que apontem possíveis ameaças sofridas pelo coronel Malhães antes de ser encontrado morto. Há cerca de um mês, ele havia admitido na Comissão Nacional da Verdade que participou de torturas e desaparecimentos durante a ditadura, inclusive o do ex-deputado Rubens Paiva. A guia de sepultamento do corpo do coronel reformado Paulo Malhães, à qual a Globo News teve acesso, informa que ele sofreu edema pulmonar, isquemia do miocárdio e miocardiopatia hipertrófica. Segundo o perito criminal Mauro Ricart, essa é a causa da morte identificada pelo Instituto Médico-Legal e sugere que Malhães faleceu em decorrência de causas naturais. Em entrevista à Globo News, Mauro Ricart disse que Malhães era portador de uma cardiopatia grave (doença do coração. “Não se pode afastar a hipótese de uma violência emoção precipita um infarto. Com essas informações (do laudo do IML), a causa da morte dele é natural”, disse. O crime ocorreu cerca de um mês depois de o militar ter admitido na Comissão Nacional da Verdade que participou de torturas e desaparecimentos durante a ditadura, inclusive o do ex-deputado Rubens Paiva . De acordo com informações do portal G1. O Clube Militar, associação que reúne militares da reserva do Exército, informou que não se pronunciará sobre o caso por não conhecer as circunstâncias da morte do coronel. O chefe de gabinete da presidência da instituição, coronel Figueira Santos, afirmou que o Clube Militar só irá se manifestar se surgir algum "fato novo". O Comando Militar do Leste, no Rio, também informou que não vai comentar o caso, já que as investigações estão a cargo da Polícia Civil. Em dois depoimentos diferentes, um à Comissão Estadual da Verdade do Rio, no dia 21 de março, e outro na Comissão Nacional da Verdade, dia 25 de março, Paulo Malhães deu detalhes sobre torturas e desaparecimento de corpos durante a ditadura. Primeiro, declarou ter desaparecido com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva, morto em 1971. No segundo momento, voltou atrás e afirmou não lembrar se foi ele que executou a ação. - Eu só disse (à imprensa) que fui eu porque eu acho uma história muito triste, quando a família leva 38 anos dizendo que quer saber o paradeiro. Eu não sou sentimental, não, mas tenho as minhas crises - disse, na época. Victória Grabois, presidente do grupo Tortura Nunca Mais,  considera que o crime demonstra “perigo” para quem investiga a ditadura. “É estarrecedor o que aconteceu. Espero que o Estado brasileiro tome as medidas cabíveis, acione as polícias estadual e Federal para apurarem o que realmente aconteceu. Nós, dos direitos humanos, temos que ficar atentos. Se isso aconteceu com um militar, nós estamos passando por muito perigo”, afirmou. Victória teme que as investigações da Comissão da Verdade sejam prejudicadas devido ao assassinato. “A morte do coronel é uma ameaça, porque outros torturadores podem ficar acuados para prestar depoimentos e esclarecimentos sobre o que aconteceu na época da ditadura militar. Temos que abrir os arquivos da ditadura o quanto antes”, disse. A Polícia Federal informou que não é atribuição do órgão a apuração desse crime.  
Tags:
Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo