A falta de investimentos em políticas públicas é responsável por 51,01% dos casos de permanência de crianças e adolescentes em abrigos no Rio de Janeiro. Deste total, 39,75% estão abrigados devido à da pobreza da família e 11,26% por causa da insuficiência da rede de serviços, como creches, escolas e programas sociais que funcionem em horário complementar à escola.
Os dados são do levantamento "Reordenamento de Abrigos", realizado pelas organizações não-governamentais (ONG) Terra dos Homens e Escola, em parceria com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
A pesquisa, divulgada nesta sexta-feira, durante seminário promovido pela Prefeitura, ouviu 1.918 crianças e adolescentes mantidos em 69 instituições localizadas no município do Rio, com o objetivo de propor alternativas ao papel dessas instituições.
Para Cláudia Cabral, diretora-executiva da Terra dos Homens, é preciso haver mudança de mentalidade da sociedade quanto à necessidade dos abrigos. Segundo ela, a pesquisa mostra que somente 35% dos abrigos são apoiados pelo governo, enquanto 65% são mantidos por pessoas físicas, religiões e bazares.
— Nossa sociedade acredita que é no abrigo que os jovens devem ficar, mas tem de compreender que, dentro de um abrigo, a criança não pode se desenvolver tão bem quanto com sua família, apoiada por um trabalho social — afirmou.
Cláudia Cabral informou que 77% das crianças abrigadas têm família e que há falta de investimento em políticas públicas em todos os setores, como esporte e lazer, trabalho, educação e saúde.
— Todas essas secretarias deveriam estar presentes em todas as regiões e localidades para oferecer tudo isso à população, e não continuar tentando manter os abrigos, ou as crianças em situação de rua, através das esmolas — afirmou.
Apesar do quadro ainda não ser considerado ideal, a pesquisa registrou avanços, depois da criação do Estatuto da Criança e do Adolescentes. Há 20 anos, 14 mil crianças eram mantidas em abrigos; agora, o número caiu para 2 mil.
Outros dados do levantamento indicam que a violência doméstica é responsável por 28,64% dos casos de permanência dos jovens nas instituições, seguida por motivos relacionados ao tráfico de drogas, saúde física dos pais ou dependência química dos pais ou dos próprios filhos (10,61%).
Outro problema é o tempo de permanência, já que 42% das crianças e adolescentes ficam nas instituições num período entre 2 e 5 anos, percentual considerado muito alto e em desacordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente.