O líder de extrema direita francês Jean-Marie Le Pen está sendo alvo de fortes críticas por ter dito que a ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial não foi "especialmente desumana".
Le Pen, de 76 anos e líder da organização política Frente Nacional, disse à revista de extrema direita Rivarol que os "excessos" cometidos pelos alemães tinham sido "inevitáveis" em um país do tamanho da França.
O ministro da Justiça francês, Dominique Perben, disse ter mandado abrir investigações sobre as declarações e que Le Pen vai ter que se explicar à Justiça.
Uma importante organização judaica, a CRIF, disse que as declarações de Le Pen "maculam" todas as vítimas do nazismo.
Cínico
- Na França, pelo menos, a ocupação alemã não foi especialmente desumana, mesmo tendo havido excessos, inevitáveis em um país de 550 mil quilômetros quadrados - disse Le Pen à revista.
- Se os alemães tivessem feito as execuções em massa que são ditas de forma geral, então não teria havido necessidade de campos de concentração para deportados políticos.
O prefeito e os moradores da cidade de Oradour-sur-Glane, onde as tropas SS nazistas encerraram em uma igreja 642 mulheres e crianças e depois atearam fogo ao prédio, expressaram profunda indignação.
Durante a ocupação da França pelos nazistas, mais de 70 mil judeus franceses foram assassinados em campos de extermínio, e milhares de civis franceses foram mortos pelo Exército alemão.
Outros líderes da França disseram que Le Pen, que concorreu com o presidente Jacques Chirac no segundo turno das eleições de 2002, estava tentando "cinicamente" promover sua campanha contra a Constituição européia.
Le Pen denunciou o "controle político do pensamento" na França.
- É escandaloso que, 60 anos depois, alguém não possa se expressar de forma coerente e tranqüila sobre esses assuntos e julgar livremente os fatos sobre a ocupação - disse ele à rádio RTL.
O líder da Frente Nacional disse também que entraria com processo contra o jornal Le Monde, a quem ele acusou de ter "manipulado" suas palavras ao relatar a entrevista.
Crime
O ministro da Justiça da França disse estar chocado.
Leis anti-racismo prevêem que a negação do holocausto é crime que pode ser punido com prisão e multas.
No entanto, não está claro se Le Pen poderá ser processado por suas declarações, de acordo com essa legislação.
Le Pen, que fundou o partido da Frente Nacional em 1972, já foi condenado por racismo e anti-semitismo em diversas ocasiões.
Em 1987, ele descreveu as câmaras de gás nazistas como "um detalhe da história".
Para Le Pen, nazistas 'não foram especialmente desumanos' na França
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Quinta, 13 de Janeiro de 2005 às 14:43, por: CdB