O governo brasileiro minimizou nesta terça-feira as divergências com a Argentina e anunciou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega argentino Néstor Kirchner vão se reunir quando for necessário para abordar os problemas bilaterais.
Em Paris, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que a Argentina é um sócio estratégico do qual o Brasil deve cuidar mais. Em Brasília, o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, conversou com o chefe de gabinete argentino, Alberto Fernandéz, para falar das dificuldades nas relações entre os dois países.
Recentemente, notícias de jornais argentinos, que tiveram ampla repercussão no Brasil, indicaram que o governo do presidente Néstor Kirchner estaria incomodado com várias iniciativas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente em relação à sua atuação como mediador de conflitos regionais.
- Eu conversei com o Alberto Fernandéz hoje (terça-feira). Tocamos nesse assunto rapidamente e eu o senti muito tranquilo em relação a esses assuntos - disse Garcia a jornalistas. Ele acrescentou que os dois presidentes "vão conversar no momento em que acharem adequado".
Garcia negou as afirmações de que o Brasil não teria dado apoio às negociações da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e disse que o país sempre apoiou seu vizinho perante o organismo internacional de crédito.
Mas, falando a jornalistas na capital francesa, onde está para uma reunião sobre comércio, Amorim disse que "o Brasil deveria fazer mais pela Argentina do que tem feito".
- O que acho que deveríamos fazer com a Argentina é comprar mais petróleo, mais trigo deles, mais compras governamentais e investir mais na Argentina. Deveríamos ter uma política industrial em que o BNDES pudesse ser usado para financiar investimentos na Argentina. Isso melhoraria a situação.
As declarações de Amorim foram divulgadas pela assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores.
Brasil e Argentina são os principais sócios do Mercosul, que conta ainda com Uruguai e Paraguai como sócios plenos, e carregam uma longa história de conflitos comerciais.
Com sua política externa de crescente protagonismo regional, o Brasil se tornou um candidato de peso para representar a região como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU caso o órgão venha a passar por reformas.
Além disso, o país liderou a criação da Comunidade Sul-Americana de Nações, que tem como membros todos os países do continente. Para a Argentina, esse projeto adia o aprofundamento do Mercosul.
Lula também vem agindo para aproximar as posições de Colômbia e Venezuela e, recentemente, teve atuação destacada na crise institucional do Equador, cujo presidente destituído pediu asilo ao Brasil.
Amorim defendeu as iniciativas do Brasil, que faz fronteira com todos os países sul-americanos com exceção somente de Equador e Chile, mas disse que as medidas brasileiras em relação a outros países da região em nada diminuem a importância dada por Brasília aos laços com a Argentina.
- O Brasil tem fronteiras com dez países na América do Sul e precisa ter uma política para o conjunto da América do Sul. Acho que é uma coisa natural e essa é a nossa visão. Ela em nada diminui a importância estratégica que o Brasil atribui, prioritariamente, acima de qualquer outra relação, à Argentina - disse o ministro.
Para Amorim, Argentina é sócio estratégico e prioritário
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Terça, 03 de Maio de 2005 às 18:26, por: CdB