Mesmo com as limitações da sua saúde, o Papa João Paulo II embarca nesta quarta-feira para uma viagem de quatro dias à Eslováquia. A viagem, a quarta e última ida ao exterior em 2003, acontece um mês antes do 25º aniversário da sua eleição.
Aos 83 anos e vítima do mal de Parkinson, ele parece excepcionalmente fraco nestes meses de verão europeu. Em algumas ocasiões, estava sem fôlego e com dificuldades para falar, mas não deixou de fazer suas tradicionais duas aparições públicas por semana, apesar do forte calor.
Hoje, um dia chuvoso, o pontífice usou a audiência na praça de São Pedro para anunciar, com voz trêmula, as "grandes esperanças" depositadas por ele na viagem à Eslováquia. No plano político, ela quase coincide com uma importante reunião de líderes da União Européia, a ser realizada em Roma nas próximas semanas.
A UE, à qual a Eslováquia adere em maio, está debatendo uma futura Constituição. Os políticos que prepararam seu esboço optaram por deixar de lado qualquer menção ao cristianismo, preferindo citar "a herança cultural, religiosa e humanista da Europa".
O Papa quer uma referência explícita ao cristianismo, em que enfrenta oposição de governos tradicionalmente laicos, como a França. Outros países temem que isso seja visto como um acinte por judeus, muçulmanos ou ateus. "Não estamos falando de inventar nada. Mas deve-se reconhecer e louvar toda essa herança que vem de séculos de história", disse monsenhor Renato Boccardo, organizador das viagens papais, à Rádio Vaticano.
Por causa da saúde precária, a viagem à Eslováquia, a terceira do Papa ao país, terá uma agenda leve. Mesmo assim, ele terá de deixar a capital, Bratislava, em duas ocasiões, para ir de avião a cidades do leste e oeste do país, onde 75% da população é católica.
Mais de 5 mil policiais estarão de prontidão durante a visita. O governo disse ontem que está investigando três cartas anônimas contendo ameaças contra João Paulo II, mas autoridades eclesiásticas declararam que não estão preocupadas. O ponto alto da visita será a missa de domingo em Bratislava, quando o papa deve beatificar uma freira e um bispo que foram perseguidos pelo regime comunista da então Tchecoslováquia na década de 1950.
O papa deve aproveitar a ocasião para criticar a invasão de atitudes liberais e consumistas, típicas do Ocidente, na Eslováquia e em outros países ex-comunistas.