Rio de Janeiro, 20 de Janeiro de 2025

Outra tempestade

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Sexta, 08 de Julho de 2005 às 15:44, por: CdB

Está ficando cada vez mais evidente que nos aproximamos de um impasse político, difícil de ser superado. A avalanche de denúncias vai atolando a agenda de quantas comissões de inquérito possam ser criadas. Desta maneira, Governo e Congresso, feitos para conduzir o país, se mostram incapazes de administrar suas próprias tensões. O impasse assume dimensão nacional. 
O Evangelho é pródigo de referências válidas, que ajudam no discernimento da realidade e na tomada de decisões.

O Brasil está vivendo a situação dos discípulos na barca. Era noite, estava escuro, e os ventos começaram a soprar com força crescente. Acostumados a remar, os apóstolos foram administrando a situação, até sentirem que não davam mais conta da tempestade. Aí foram acordar o Mestre, que dormia tranqüilo.

Se dormia, era porque confiava em Deus. Mas confiava também na experiência dos discípulos. Como pescadores, deviam saber remar.

Acordado, o Mestre serenou os ventos e o mar.

Até aí o Evangelho, onde tudo é bonito, e as soluções são encantadoras.         Não é assim agora. A barca está furada, fazendo água. Mais um pouco, vai a fundo.  Não se trata de acalmar os ventos. Trata-se de consertar a barca.

Na prática, o momento está pedindo uma urgente reforma do Estado Brasileiro.

Neste sentido, perde importância a própria averiguação dos fatos, que vai ocupando o tempo e as energias do Congresso, e o vai desgastando cada vez mais diante do povo brasileiro, que já começa a perder esperança nos seus representantes.

A urgência maior, que deveria medir a boa vontade de todos os envolvidos, não é buscar posições vantajosas para as próximas eleições. Mas encontrar propostas concretas de reforma do Estado brasileiro.  De nada adianta eleger outro governo, se as armadilhas do atual sistema vão continuar.

Neste sentido, a crise oferece uma oportunidade, que não pode ser desperdiçada. O momento é agora, para de uma vez por todas colocar-nos de acordo sobre mudanças estruturais em nosso sistema político.

Para isto, cabe ao governo tomar a iniciativa de postular estas mudanças. E cabe à cidadania se articular, para apresentar propostas concretas, que não podem ficar condicionadas aos interesses menores da conjuntura atual.

O Presidente Lula ainda detém uma esperança: de que ele seja o fiador de uma ampla reforma em nossas instituições políticas, feita sem nenhum interesse eleitoral imediato.

Então o impasse atual encontraria um caminho de solução. E seria possível aproveitar os ventos para conduzir a barca no rumo certo.

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