Rio de Janeiro, 30 de Outubro de 2024

OTAN, em declínio, trava sua última batalha no norte da Síria

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Quarta, 09 de Abril de 2014 às 08:55, por: CdB
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Rebeldes sírios ligados à al Qaeda cruzam a fronteira com a Síria a partir de acampamentos na Turquia
A pequena cidade de Kassab no noroeste sírio, localizada na fronteira com a Turquia, transformou-se em um campo de batalha crucial entre as forças de segurança sírias e militantes armados apoiados pelo exército turco. Os confrontos receberam destaque, semana passada, quando a Turquia abateu um avião de guerra sírio realizando ataques aéreos ao longo da fronteira enquanto os militantes adentravam o território sírio. Enquanto o governo turco sustenta que o avião sírio violou seu espaço aéreo, este caiu em território sírio, após seu piloto ter ejetado e aterrissado em segurança também em solo sírio. A agência inglesa de notícias Reuters informou, em seu artigo, “Turquia abate avião sírio que teria violado seu espaço aéreo”, que: "Um F-16 turco disparou um foguete contra o jato sírio, que caiu cerca de 1.200 metros (1.300 jardas) dentro do território sírio". É evidente que o governo turco sabia que forças sírias estavam combatendo militantes, que Ancara abrigava em seu território, e quaisquer atividades transfronteiriças realizadas pela Síria não representavam qualquer ameaça para a segurança turca, além do que as perseguições que seu governo realiza regularmente no norte do Iraque contra militantes curdos. Em vez disso, parece que os aviões de guerra turcos estavam de fato fornecendo suporte aéreo para os militantes cruzarem a fronteira síria. Mais alarmante é o fato de que os militantes foram identificados através dos meios de comunicação ocidentais como vindos da organização terrorista Jabhat Al Nusra, que o Departamento de Estado dos EUA designou como sendo franquia síria da Al-Qaeda. Na página do Wall Street Journal/Middle East Real Time, a matéria “Ofensiva em Latakia traz lembranças sombrias para armênio-sírios”, diz: "Quando os rebeldes islâmicos linha-dura tomaram trechos da província de Latakia nesta semana, obtiveram seu primeiro posto avançado no Mar Mediterrâneo". A ofensiva militar foi simbólica por vários motivos: os rebeldes da Frente Al-Nusra tomaram partes do norte da província natal de Bashar Al-Assad, enquanto a força aérea turca abateu um avião de guerra do regime que tentava bombardear o avanço rebelde, enquanto voava perto da fronteira. Al-Nusra é filial da Al-Qaeda na Síria. Um membro da OTAN fornecendo apoio aéreo para as incursões da Al-Qaeda em um país vizinho não poderia ser mais flagrante violação da soberania nacional ou do direito internacional. No entanto a Turquia, aparentemente, não parou por aí na tentativa de aumentar as tensões com a Síria. Uma conversa recente vazou entre o chefe da inteligência turca, Hakan Fidan, e o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Ahmet Davutoglu, revelando os planos da Turquia para encenar um ataque forjado na própria Turquia, para provocar uma guerra com a Síria. O International Business Times informou em seu artigo, “Banimento do Youtube na Turquia: Transcrição completa do vazamento da conversa entre oficiais de Erdogan sobre a ‘Guerra’ na Síria”, que: O banimento do YouTube pelo primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan ocorreu depois do vazamento da conversa entre o chefe da Inteligência Turca Hakan Fidan e o ministro das Relações Exteriores turco, Ahmet Davutoglu, que ele queria que fosse removido do site de compartilhamento de vídeos. O vazamento revelou detalhes da ideia de Erdogan de que um ataque à Síria “deve ser visto como uma oportunidade para nós (Turquia)“. Na conversa, o chefe da inteligência Fidan disse que enviaria quatro homens para a Síria para atacar a Turquia para “criar um motivo para a guerra”. O Vice-Chefe do Estado-Maior tenente-general Yaşar Güler responde que as ações projetadas de Fidan são “uma clara tentativa de levar à guerra … 'o que você vai fazer é uma clara causa de guerra.” O Ministério das Relações Exteriores da Turquia disse que, a gravação que vazou de altos funcionários discutindo a operação Síria foi “parcialmente manipulada” e é um “ataque desprezível” à segurança nacional. No vídeo vazado, Fidan está discutindo com Davutoglu, Güler e outros funcionários uma possível operação dentro Síria para proteger o túmulo de Suleyman Shah, avô do fundador do império otomano. A revelação surpreendente foi praticamente enterrada pelos meios de comunicação ocidentais, que intencionalmente focaram apenas na proibição do Facebook e Twitter na Turquia que visava encobrir o que se referiram como “casos de corrupção”. Um ataque autoinfligido para justificar ação militar direta na Síria, corre o risco de desencadear um conflito regional de larga escala envolvendo a Turquia e, por extensão, os membros ocidentais da OTAN – cenário que o Ocidente tem buscado tão logo o conflito na Síria começou em 2011. Uma intervenção ocidental, mesmo que limitada ao norte da Síria, através da Turquia, permitiria a criação de “zonas tampão” ocupadas pelo ocidente em território sírio, há muito desejadas pelo Ocidente desde meados de 2012, por políticos norte-americanos, especialmente aqueles entre o financiamento corporativo da Brookings Institution, a partir da qual muitas das aventuras militares norte-americanas foram concebidas. A ideia de estabelecer uma “zona tampão” destina-se a olhar como uma reação instintiva de violência ao longo da fronteira sírio-turca e foi descrita em detalhes pelo Brookings Institution em seu “Memorando nº21 para o Oriente Médio Março de 2012″, “Avaliando opções para mudança de regime”, onde afirmava especificamente: “Uma alternativa seria concentrar esforços diplomáticos para primeiro acabar com a violência e obter acesso humanitário, como está sendo feito sob a liderança de Annan. Isso pode levar à criação de lugares seguros (safe-havens) e corredores humanitários, que seriam apoiados por poder militar limitado. Isso, é claro, ficaria aquém das metas dos EUA para a Síria e poderia preservar Assad no poder. A partir desse ponto, no entanto, seria possível adicionar, com uma ampla coalizão com mandato internacional apropriado, outras medidas de coação para os seus esforços”. O Brookings Institution, no referido memorando, não faz segredo de que a “responsabilidade de proteger” humanitária é apenas um pretexto para a mudança de regime há muito planejada. A cumplicidade com a Al-Qaeda, fornecendo terroristas armados com apoio aéreo e planejamento para provocar intencionalmente uma guerra com a Síria através de um premeditado, autoinfligido e agora plenamente revelado ataque projetado para incriminar Damasco – tudo levado à cabo às claras, enquanto o mundo procura esclarecer o perigoso desespero em que o Ocidente agora se encontra, enquanto seu projeto de hegemonia global toma o pior rumo. Enquanto a Turquia leva a culpa pelas recentes e flagrantes séries de atos de guerra contra a vizinha Síria, sua participação na OTAN e a subsequente falha da OTAN em condenar a Turquia por suas ações, implica toda a aliança militar como cúmplice. Na verdade é irônico o fato de que, embora a OTAN envie mimos à Al-Qaeda como armas e cobertura aérea ao longo da fronteira sírio-turca, ela usa a presença da mesma Al-Qaeda no Afeganistão, para justificar a sua contínua ocupação lá, bem como incursões transfronteiriças para o vizinho Paquistão. Em cada momento crucial durante o conflito sírio em curso, o Ocidente tem gasto muito de sua credibilidade e reputação, enquanto burla as “normas internacionais” que tem trabalhado há décadas para estabelecer. A cada derrota nestes momentos cruciais, o impulso com o qual o Ocidente contava tão ansiosamente desde 2011 é reduzido cada vez mais. A batalha em Kassab, e em menor extensão a “Frente Sul” ao longo da fronteira sul entre Síria e Jordânia, que parece já ter entrado em colapso sob contra-ataques da Síria, parece ser a última batalha da OTAN e seus procuradores na Síria. O Exército Sírio parece totalmente capaz de barrar os militantes que fluem ao longo de suas fronteiras e exibiu paciência infinita contra as provocações da OTAN. Com a Turquia tendo revelado estar planejando ataques em seu próprio território para provocar uma guerra com a Síria, qualquer tentativa efetiva de realizar um falso ataque agora só enfraqueceria ainda mais a posição da Turquia e da OTAN. Mesmo que o Ocidente seja capaz de estabelecer “zonas tampão” no norte da Síria, o preço que pagarão em credibilidade, reputação e legitimidade faria de tal “vitória” pírrica. Tal como acontece com todos os impérios ao longo da história humana, há um momento decisivo, quando o declínio se torna irreversível e a queda de um império iminente. Para a “Pax Americana” e a elite estacionada em Wall Street e na cidade de Londres, esse momento pode ser a batalha de Kassab e o fim vergonhoso da tentativa ocidental de mudança de regime na Síria. Tony Cartalucci é jornalista, pesquisador em geopolítica e escritor. Baseado em Bangcoc, na Tailândia, escreve para o jornal New Eastern Outlook. Tradução: Oriente Mídia
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